Esse nome não é estranho. Ainda mais para aqueles que não perdem um dia a "Sessão da Tarde". Você lembra? Sim, é ele. O mestre de Daniel Sam no filme "Karate Kid", um clássico da Rede Globo de televisão.
Para quem não lembra, o filme conta a história de um jovem saído de uma cidadezinha do interior para ir morar numa cidade totalmente diferente da sua, principalmente as pessoas que ali habitam. Como todo jovem de cidade grande, a pessoa que vem do interior é um atrativo para toda sorte de peripécias e zoações. E em casos mais extremos, como de Daniel Sam, esses indivíduos aculturalizados com a "cultura urbana" são também utilizados como um "bob class" (boxe no boneco de borracha), revelando assim a sua inferioridade perante o homo civilizatus que ocupa a "selva de pedra", onde, nesse caso, sobrevive literalmente apenas o mais forte.
No meio desse processo de seleção natural das espécies que habitam a cidade, surge nosso mestre Miyagi, sargento aposentado do exército americano, que vive sozinho desde a morte de sua esposa, ocorrida durante um trabalho de parto (quem lê os detalhes pensa que sou o maior fã da trilogia Karate Kid!!). Senhor Miyagi adota Daniel Sam, conhecido até esse momento como Daniel Larusso, como o filho que nunca teve. E se desenvolve a partir daí toda a trama do filme, que tem um desfecho brilhante com a vitória de Daniel Sam com um golpe nocauteador alá Van Daime, após ter apanhado muito, nos moldes do boxeador Rock.
É sobre essa simpática figura do senhor Miyagi que quero discorrer. Isso porque sinto falta de um senhor Miyagi em minha vida. Apesar do filme trazer uma visão um pouco tanto deturpada da sabedoria oriental, e o velho clichê "aprender a lutar para não precisar lutar" na intensão de acalmar os ânimos mais exaltados de alguns telespectadores, percebo que estamos com falta de "senhores Miyagis" para nos ensinar algo sobre a vida.
Isso porque o senhor Miyagi mostrou que aprendeu muito com a vida. Somente pode falar sobre ela quem a viveu. Interessante que todas as coisas que o querido mestre ao qual procuro aprendeu, foi ensinado pelo seu pai. Desde as artes marciais, até o cultivo de bonsai (que é sua marca registrada; observe o kimono de Daniel Sam). Talvez venha daí a riqueza de todos os rituais que ele cultivava: de meditar, cultivar as pequenas árvores, de praticar as artes marciais mesmo em idade avançada. Quando nossos pais investem em nós, certamente faremos que esse investimento se transforme em exemplo de vida para os outros.
Mas o que mais me chamou a atenção, e que mais motivou a me levar a procurar pelo senhor Miyagi, foi a forma como ele ensinou Daniel Sam a lutar. Pintando cerca, lustrando carros, lixando o chão, equilibrando-se no barco e lutando contra as ondas do mar. E é claro, Daniel Sam, como um bom discípulo de nossa época, não conseguia ver o proveito de todas essas atividades. Daniel Sam somente via como um bom treinador o mestre da academia concorrente, pois este tinha na parede medalhas, troféus, fotos, e uma postura que o nível social exigia que esse tivesse. Enquanto nosso mestre Miyagi em suas próprias palavras: "lutei apenas pela vida, não por competição".
E o treinamento não se resumia somente em trabalhos manuais. Mestre Miyagi ensinou Daniel Sam a receber e dar presentes. Foi arrumando a bicicleta de Daniel Sam que eles se aproximaram, dando um bonsai para Daniel que ele ensinou a responsabilidade, dando um carro demonstrou a sua confiança, dando seu kimono revelando a esperança em Daniel Sam.
Por fim, senhor Miyagi cativa meu coração quando se encoraja a tomar as dores de Daniel Sam. Faz isso quando resolve treiná-lo, quando vai até a academia rival para pedir paz, quando conversa sobre a paquera de seu díscipulo,quando fala que Daniel Sam não precisava mais lutar.
Ah senhor Miyagi! Onde estará o senhor agora? Preciso tanto de alguém que me fale sobre a vida. Que caminhe comigo e me mostre onde cada passo me levará. Que conte histórias de sua vida para eu ver como a minha é tão simples. Que de menos presentes e mais responsabilidades para que eu aprenda que vida se constrói a partir de mim e de como eu me lanço em seus braços.
Marcadores: biografia, reflexões, relacionamento, vida