31.8.07
insegurança
A Ad me convidou para refletir sobre a "insegurança". Pois bem, pensemos.....

A insegurança muitas vezes é tida como sinônimo de desconfiança. A insegurança seria uma falta de confiança oferecida pelo outro com quem se relaciona. "A falta de confiança geraria a insegurança". Até compreendo a relação existente, mas eu não penso que ambas partilhem a mesma idéia.

Já escrevi em outro momento sobre a confiança. E minha tese se resume nisso: A confiança não é algo presente no outro, mas uma atitude daquele que confia. Não é algo do outro, e sim uma expectativa lançada sobre ele. E sendo a confiança a atitude daquele que se dirige, então, ao desconfiar, se desconfia de si mesmo.

A segurança por sua vez, está pautada nas condições apresentadas pelo outro. Não é algo que dependa de mim, mas sim daquilo que o outro me oferece. Por exemplo, quando vamos a um parque de diversão, além do valor da entrada, analisamos as condições materiais do brinquedo, sua estrutura física, seu monitor, etc. Quem mora em cidades reféns da violência, quando sai de casa, procura analisar a condições de segurança do local para o qual se dirige: que rua pegar, se o horário é pertinente, o histórico da região, o policiamento do local, etc. Assim, a segurança é gerada em nós a partir das informações coletadas.

A confiança é depositada. A segurança, recebida.


Insegurança e desconfiança não são sinônimos, tanto que em algumas ocasiões desconfiamos de situações aparentemente seguras.......

(humm, tá tudo muito certo! Só pode ter algo errado nisso aí!)

......... e confiamos em situações que não oferecem segurança alguma.

E quanto a insegurança que sentimos em relação a nós? A dúvida, a incerteza, o medo, sobre as nossas possibilidades de acertar? Acredito estar sob a mesma idéia. Se somos inseguros quanto a nós, é porque reconhecemos nossos limites, nossas (in) capacidades, nossos erros anteriores. Não entro no mérito dessa insegurança ser oriunda de uma baixa auto-estima. Mas o fato é que ela é forjada nas informações recolhidas sobre nós.

De modo geral essa seria a minha idéia sobre a insegurança: ela é oriunda das informações recolhidas e que não satisfazem a nossa exigência, não nos confortam com a certeza, e a esperança oferecida é excessivamente frágil.

Bem Ad, essas foram as idéias com as quais flertei durante esses dias. De tudo isso gostaria de salientar um ponto. Podemos viver uma situação de completa segurança mas ainda assim desconfiar; como também podemos estar numa situação de total insegurança e ainda assim confiar.

Seria mais ou menos como a metáfora bíblica: o sábio constrói a casa sobre a rocha, pois sabe que durante a tempestade sua casa estará firme em seus fundamentos. Diferente do insensato, que constrói a casa sobre a areia, e quando vem a tempestade, ela carrega a casa com seus fundamentos. (Mateus 7:24-27)

Contudo, sabemos que a vida não é nada lógica, e por isso um pouco de insensatez sempre convém. Afinal, em algum dia e de algum modo, todos nós depositaremos a confiança na insegurança e desconfiaremos da segurança. E a resposta da nossa aposta será revelada apenas no final....

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posted by rafael at 01:25 | Permalink | 7 teste tua chave
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27.8.07
bem me quer, mal me quer...
















A flor sente dor
ao perder suas pétalas
em nossos jogos de amor?

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posted by rafael at 11:56 | Permalink | 14 teste tua chave
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23.8.07
The Power of Schmooze Award

O “The Power of Schmooze Award”, no dicionário (inglês) Schmooze é a capacidade de “conversar casualmente, especialmente para ganhar uma vantagem ou fazer uma conexão social”. O prêmio criado pelo Mike (Ordinary Folk) e pela Danielle (Pink Reviews) no dia 02.07.07 tem como objetivo ” reconhecer pessoas excepcionalmente competentes em criar relacionamento com outros blogueiros por se esforçarem em fazer parte de uma conversa, ao contrário de um monólogo.” (texto extraído do 30&Alguns)

1. Se você receber o The Power of Schmooze Award, escreva um post indicando 5 (cinco) blogs que têm este perfil “schmoozed” ou que tenham te “acolhido” nesta filosofia.

2. Acrescente um link para o post que te indicou e um para o post do Mike, para que as pessoas possam identificar a origem deste meme.

3. Opcional: Exiba orgulhosamente o selo The Power of Schmooze Award com um link para o post que você escreveu.

Muito bem. O selo foi a mim entregue pela Paola (Paola a Estranha) e pela Veridiana (30 & alguns).
Indico abaixo quem eu acredito estar em sintonia a proposta do selo:


O critério para os indicados foi simples: são pessoas que eu sempre encontro deixando suas marcas pelos blogs, e são eles alguns dos responsáveis pelo selo estar aqui no Aletômetro, visto que esse espaço é conhecido graças aos links gentilmente fixados nos seus blogs.

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posted by rafael at 03:15 | Permalink | 11 teste tua chave
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21.8.07
meu texto? não. nossas palavras.

A Paola e a Veridiana presentearam o Aletômetro como o selo The Power of Schmooze Award. Mas antese de fazer as minhas indicações, gostaria de trazer novamente um texto escrito no início do ano, mas nem por isso desatualizado; pelo contrário: parece estar presente em cada visita recebida.


interpenetração

Certa vez disse que todos os meus textos, depois de cada ponto final, retratam alguém que eu próprio desconheço. Por isso, depois de colocado o último ponto, não considero mais o textos pertencentes a mim. Desse momento em diante, eles ganham vida própria, assim como os jovens ao saírem da casa de seus pais.

Atesto isso a cada manifestação sobre os textos. Recebo os mais diversos elogios, críticas e interpretações. São essas últimas a real prova da magia contida nas palavras, pois, depois de fixadas, elas encantam das mais diversas maneiras as pessoas que as lêem. E de modo algum sinto-me frustado pelas leituras não estarem em conformidade com a idéia presente na minha mente no momento da produção do texto. Pelo contrário. Sinto-me atingindo por uma felicidade singular, parecida com aquela que nos sobreveem quando somos surpreendidos pelo olhar ou sorriso da pessoa que amamos.

E por cada texto carregar um pouco da minha pessoa, mas ao mesmo tempo ser totalmente independente de mim, e simultaneamente gerar sentimentos, resgatar lembranças, tocar em pontos diferentes de cada leitor, creio que não somos nós quem interpretamos o texto, e sim, é o texto quem nos interpenetra. Ele carrega um pouco de mim até você, e quando você me diz algo sobre ele, está colocando um pouco de você em mim, e nele também. Assim, por causa da vida própria do texto, ele é capaz de juntar a minha vida à sua, numa cadeia infinita de interpenetrações, colocando eu em você, você em mim, e nós dois nele.

Lembro de uma palestra do Rubem Alves na qual ele disse: "Os hermeneutas ficam se perguntando sobre o que o texto quis dizer e por isso criam as mais absurdas interpretações, quando a resposta é simples: o texto quer dizer aquilo que está escrito." É uma pena que a maior parte das pessoas ficam na interpretação, quando de fato, o significado do texto e seu maior valor está contido no seu poder de interpenetração, pois é isso que nos faz transcender a cada linha, levando-nos a encontrar um reflexo de nós na palavra de outros.

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posted by rafael at 01:54 | Permalink | 14 teste tua chave
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17.8.07
ordem e progresso (e amor por princípio)
A Veridiana mobilizou uma blogagem coletiva sobre o tema:


De fato, vivemos um período de grande desordem nacional e aparente regresso em nossas estruras sociais (política, econômica, moral, religiosa....). Mas eu me pergunto se algum dia, na história de nosso jovem país, tivemos a marca da ordem e do progresso.

Sim, somos um jovem país. Nascemos oficialmente em 22 de Abril de 1500, e saimos da casa paterna em 21 de Novembro de 1889. É sabido de todos que nascemos com o propósito de sermos uma colônia de exploração e enriquecimento das metrópoles imperiais. Digo no plural porque não enriquecemos apenas Portugal, mas também a Holanda, a França, a Inglaterra e a Igreja Católica Romana.

Hoje mudamos o uniforme para a República, deixando de ser colônia para sermos uma República de exploração: além de sustentarmos os países com quem temos dívidas herdadas de nossos pais e de governos incentivadores do progresso por meio dos investimentos em infra-estrutura, também o fazemos com o capital estrangeiro, o capital interno e os interesses privados.


E falando em interesses privados, temos que parar com essa bobagem de acreditar que somos uma República e ser honestos conosco, reconhecendo que vivemos numa oligarquia: governo de um grupo economicamente poderoso que procura favorecer quem se encontra no poder em detrimento dos demais.

(eis aí nossa mentalidade de colônia)

A propósito, a nossa bandeira nacional é inspirada na bandeira do império colonial, tendo sido feita apenas a substituição do desenho da coroa imperial para a esfera azul celeste com a divisa positivista "ordem e progresso". E recordando, essa expressão é parte da fórmula máxima do positivismo: "O amor por princípio, ordem por base, o progresso por fim".

A filosofia por trás desse fórmula é interessante. Segundo Comte, a moral é a última ciência e rege todas as demais. A "essência" da moral seria o amor, isto é, a caridade, o altruísmo. A ordem seria todas as coisas em seu devido lugar conforme a orientação da moral. O progresso seria consequência dos elementos anteriores. Os positivistas entendem que existe uma lei regendo o progresso das sociedades, sendo o progresso entendido como a ascensão do homem do seu estado de selvageria para o estado de homem livre. E "homem" para os positivistas, refere-se tanto ao indivíduo quanto a sociedade como um todo.

Esta concepção já está superada. Mas ainda, nós, brasileiros, nunca a aprendemos. Pois, como brasileiros, nunca nos interessamos pelo Brasil, e deixamos esse jovem lançado a mercê daqueles que se apropriaram dele para alcançar seus interesses nada caridosos.

Confesso meu pessimismo. Acredito que grande parte desses movimentos contra o governo não são nada altruístas, assim como toda a história do nosso jovem país nunca foi marcada pelo princípio da ordem e do progresso (na verdade, o princípio virou slogam). Para mim, a maior parte dos movimentos choram por seus interesses particulares, e não duvido nada que eles se transformarão em partidos políticos dentro de alguns anos.

E no fim, continuamos sendo uma oligarquia travestida de república e que adora discursar sobre democracia.

Ordem e progresso? Somente se tivermos o amor por princípio.

Leia também o texto da Thiane "falta orgulho de ser Brasil"

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posted by rafael at 15:20 | Permalink | 13 teste tua chave
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15.8.07
feliz (?) dia do solteiro
Eu não sabia , mas segundo o Wolve, hoje é o dia do solteiro.

Numa das minhas confissões da madrugada, confidenciei para uma amiga:

"Atualmente eu prefiro a vida de solteiro.
Mas acredito que aproveitaria mais a vida se estivesse acompanhado.
Porém, ter companhia parece ser muito stressante, e não gosto de me incomodar.
Por isso vivo num dilema: quero aproveitar mais a vida, mas sou muito parado sozinho.
Mas ter alguém traz muita preocupação e stress...."

Muitos diriam que eu não aproveito minha vida de solteiro. E até acredito que tenham razão. Não sou alguém de muitos planos, não sonho alto, não tenho grandes desejos. Gosto da vida mansa, onde basta o suficiente, sendo a medida do suficiente bem baixa: um teto e dinheiro para comer, beber e comprar alguns livros. Por isso não me dedico a construção de uma carreira. Apenas o suficiente. Não ao luxo e ao lixo.

Não almejo grandes coisas. Fujo da tentação do poder e me escondo dos refletores da fama. Da vida desejo o mínimo: bons olhos para ver a beleza, bons ouvidos para escutar a sabedoria, boas narinas para encher os pulmões com o perfume dos campos, bons lábios para louvar e saborear a existência.

(mesmo que ela seja amarga)

Não beijo muito. Aliás, não beijo nada. Não fico. Gosto de amar. Amar para mim já é aventura suficiente. Não flerto por acaso. Não aceito a idéia de criar expectativas em alguém que não serão correspondidas. Gosto de receber e ser recebido inteiramente. Não gosto de rolo, e sim do decidido: é ou não é.

(No beijo te recebo e me entrego. Na cama nos tornamos um corpo-alma)

Por isso sou muito parado sozinho. Tenho o suficiente para mim. Mas sei que seria diferente estando com alguém. Outros sonhos, outros desejos, outras necessidades. Eu recebo o outro inteiramente, e vivo sua vida inteiramente. Não me anulo, pois me torno outro. Não me torno outro, pois eu permaneço, ainda que no outro. Não estou no outro, pois fui eu quem o recebi, e assim é ele quem está em mim. É minha alma em outro corpo; é meu corpo com outra alma.

(Não há "eu" e "outro": para mim, no amor existe apenas nós)

Dizem que sou sonhador, e com certa; talvez com grande; talvez inteiramente com a razão. É por isso que atualmente prefiro a vida de solteiro, pois, não encontro outro sonhador. Não encontro um outro corpo para habitar e outra alma para fazer morada. Encontro apenas pré-ocupação e stress. Encontro apenas o medo e a insegurança: corpos com grades e almas trancafiadas.

(O amor é um pássaro selvagem, que na gaiola deixa de ser o que é)

Numa existência por vezes amarga
No beijo quero me entregar e receber
Transubstanciar o "eu" e o "tu" num "nós"
Deixando o pássaro selvagem ser o que nasceu para ser
E fazendo de mim sonhador, amado e amante; um com você.

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posted by rafael at 19:06 | Permalink | 16 teste tua chave
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14.8.07
tudo passa, menos as lembranças
Estava procurando um documento quando reencontrei-me com uma pasta na qual guardo cartas, desenhos, cartões e bilhetinhos. Uma vez perguntaram porque guardo isso. Eis um pedaço da resposta.

Zoação da turma na faculdade:

"As férias te fizeram muito bem =) Voltou ainda mais gatinho! Aceita um convite pra sair? Quero começar meu arém logo!"
************************
"Matando aula!!
Que vergonha, não que pensavamos que você fosse tão acadêmico...
Ass: as gatinhas do fundo!"
************************
"Por que você tá triste? Não pense que não gosto mais de você. Eu ainda gosto, se quiser volto a me declarar para você! Não precisa ficar triste por isso! Mas se você estiver em crise Ale x Kamila lembre-se que seus filhos com a Kamila não terão olhos verdes.
Vc x Kamila aaaaaaaaaaaaaaaaaaaa Vc x eu
aa x Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aa x aa
Aa Aa aa aa = 50% aaaaaaaaaaaaaa aa aa aa aa = 100%
*************************
Duas cartas de crianças

Concórdia, 18 de abril de 2002

Rafael
Estou com saudade de você. Estou mandando uma balinha pra você. Agora eu fiz big big. Eu tenho 3 anos.
Rafaela Rúbia

(a bala não chegou porque o Correio não permitiu a sua postagem!)
**************************
Concórdia, 25 de Março de 2002.
Rafael. Como você está? ( ) bem ( ) bem e mal ( ) mal. Rafael. Depois das férias vem a qui conversar comigo em español. A e com o Gustavo. Ja sabemos em español. Para você ter uma idéia cantamos uma música em español. Aclame ao Senhor. Se você não saber falar em español eu vou dizer: Dios me livre. Peça uma folguinha pra vir aqui em Concórdia a cidade que eu nasci. Você sabe falar em español não sabe? Não tem tempo para responder.
Olhe as perguntas:
Como te llamas?
Como és tú apellido?
Como se llama tú papá?
Como se llama tú mamá?
Quinta feira eu vou para o acampamento. Só preciso levar: roupa, pijama, bíblia, talher e caneca. O Marcus Vinícios o menino bola o gorducho bebê. Já está mamando mamadeira e comendo papinhas e frutinhas. A Rafaela está bem e eu também. A mãe e o pai mandãm um abraço a você.
Ass. Abner
Adios beibi
**************************
Está respondido?

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posted by rafael at 20:08 | Permalink | 14 teste tua chave
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12.8.07
a arte de urinar
Cuspir;
Coçar a "virilha";
Urinar em qualquer local.

Três marcas do "macho durão".
Eu nunca desejei ser um desses, e por isso sempre tive ojeriza a essas atitudes. Mas lendo o Kundera, comecei a repensar quanto ao último elemento da lista....

Prefiro urinar na natureza a fazê-lo em instalações modernas, que são infectas. Aqui, por alguns momentos, o fino jorro dourado me une milagrosamente ao húmus, à grama e à terra. Porque saí do pó, e em um momento vou entregar ao pó pelo menos uma parcela minha. Urinar na natureza é um rito religioso pelo qual prometemos à terra que a ela um dia voltaremos por inteiro.
(Milan Kundera, O Simpósio. In: Risiveis Amores, Nova Fronteira, 1985)

Quem diria que o ato de urinar poderia ser um momento de união com a natureza.... místico, não??

Ah, eu estava brincando quando disse estar repensando quanto a urinar em qualquer lugar como um macho! rs

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posted by rafael at 00:15 | Permalink | 17 teste tua chave
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9.8.07
o fim dos dom-juans
Mais uma de Milan Kundera sobre relacionamentos. Milan, sempre ele...

Don Juan era um conquistador. E com letras maiúsculas, mesmo. Um Grande Conquistador. Mas pergunto como se pode querer ser um conquistador numa terra onde ninguém nos resiste, onde tudo é possível, onde tudo é permitido? A era dos dom-juans está terminada. O atual descendente de Dom Juan não conquista mais, apenas coleciona. Ao personagem do Grande Conquistador sucede o personagem do Grande Colecionador, só que o Colecionador não tem nada mais em comum com Dom Juan. Don Juan era um personagem de tragédia. Estava marcado pela culpa. Pecava alegremente e caçoava de Deus. Era um blasfemador e acabou no inferno.

Dom Juan carregava nos ombros um fardo trágico, do qual o Grande Colecionador não tem a menor idéia, pois em seu universo há apenas fardos sem peso. Os blocos de pedra se transformaram em plumas. No mundo do Conquistador um olhar contava muito mais do que contam, no mundo do Colecionador, dez anos do mais assíduo amor físico.

Don Juan era um mestre, enquanto o colecionador é um escravo. Don Juan transgredia com ousadia as convenções e as leis. O Grande colecionador não faz senão aplicar docilmente, com o suor de seu rosto, a convenção e a lei, pois colecionar faz parte das boas maneiras e do bom-tom, colecionar é quase considerado como um dever.

O Grande Colecionador não tem nada em comum nem com a tragédia nem com o drama. O erotismo, que era germe das catástrofes, tornou-se, graças a ele, uma coisa comparável a um café manhã, a um jantar, à filatelia, ao pingue-pongue, ou a um giro pelas lojas. O Colecionador introduziu o erotismo na roda da banalidade. Construiu com ele os bastidores e o palco de um cenário em que o verdadeiro drama nunca terá lugar. Infelizmente são o palco de uma cena em que nada acontece.
(Milan Kundera, O simpósio. In: Risíveis Amores, Nova Fronteira, 1985.)

E eu querendo ser conquistador e conquistado, num mundo onde apenas quer-se colecionar e ser peça de coleção.

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posted by rafael at 10:16 | Permalink | 16 teste tua chave
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8.8.07
blog 5 estrelas
Depois de alguns dias afastado da net devido a correria com a visita da mamãe por essas bandas do Brasil, fui colocar em ordem minha agenda blogueira. E entre um texto aqui, um comentário ali, deparei-me no Vertente com uma indicação do Aletômetro para o concurso blog 5 estrelas.

Fiquei realmente surpreso com a indicação, pois eu daria para esse espaço umas três estrelas
(e não é falsa modéstia, pois essa é uma qualidade que me falta!). Mas vinda a indicação dada pela Thiane, de modo algum eu questiono...

E como eu sempre escrevo, quem qualifica esse blog são os seus visitantes, e as palavras aqui deixadas somente tem sentido porque cada um de vocês da sentido a elas.

As regras pedem a indicação de 5 blogs. E quero deixar registrado que os blogs listados a seguir reúnem todos os elementos que considero bons num blog, e carregam um pouco de todos aqueles que estão na minha lista de links, e já são 5 estrelas para mim (mesmo porque, se eu não gosto eu não indico, rsrs)

Seguindo as regras do concurso, listo as minha 5 indicações:
REGRAS:

1. Podem participar na votação todos os bloggers que mantenham blogs ativos há mais de um mês [os outros esperem por outra ideia brilhante que alguém irá ter].

2. Cada blogger deverá referenciar cinco nomes de blogs. A cada menção corresponde um 1 voto.

3. Cada blogger só poderá votar uma vez, e deverá publicar as suas menções no seu blog [da forma que melhor desejar], enviando-as posteriormente para o seguinte e-mail: elzinhalinda@gmail.com. No e-mail, além da sua escolha, deverão indicar o link para o post onde postaram as nomeações. A data limite para a publicação e envio das votações é dia: 27/08/2007.

4. De forma a reduzir alguns constrangimentos [e desplantes], e evitar algumas cortesias desnecessárias, também são considerados votos nulos:
- Os votos dos blogger(s) em si próprio(s) ou no(s) blogue(s) em que participa(m);
- Os votos no blog Nada pra mim.

5. Cada blog que for indicado ou indicar, deve conter de onde veio a origem do concurso, ou seja deverão manter um link para este blog afim de que outras pessoas possam conhecer a idealizadora da idéia.

No dia 31.8.2007 serão anunciados os vencedores.

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posted by rafael at 11:53 | Permalink | 1 teste tua chave
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7.8.07
quanto vale a vida?
Quanto vale a vida?

Segundo o banco real, ela não tem preço.
Segundo os familiares das tragédias aéreas, alguns milhares, e porque não, milhões de reais.

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte. E pelo simples e banal motivo: morrer é inevitável. Se a morte é causada ou não, se ela acontece na hora em que era para acontecer ou não, isso não vem ao caso. Simplesmente, a morte, num determinado momento, nos convida para bailarmos em seus braços, e em geral sem convite prévio.

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte. Poderiam me dizer que isso não significa estar colocando um valor a vida, mas serve de punição para a empresa aérea. Mas pergunto: existe maior punição para a empresa do que ter em sua história a marca de uma tragédia? E o prejuízo oriundo das mais diversas instâncias já não é punição?

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte. Poderiam me dizer que morreram homens e mulheres responsáveis pelo sustento e conforto do lar, e agora, nada mais justo do que a empresa arcar com os custos e, no mínimo, manter o padrão. Mas se a morte da pessoa fosse consequência de uma queda após o tropeço numa pedra, quem iria ser indenizado para manter o sustento da família?

(sem contar o absurdo do cáculo indenizatório baseado em projeções, como se a vida fosse estável e tudo caminharia rumo a riqueza, sem demissões, sem rebaixamento de cargo, sem crises econômicas, enfim, a vida sem infortúnios!)

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte. Poderiam me dizer que as pessoas sofreram danos morais. Mas desejo saber o que tem de imoral na morte. E quem está preparado para receber a morte de alguém?

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte. Poderiam me dizer que as pessoas sofreram tamanho impacto psicológico, que necessitarão de tratamentos clínicos para aprender a conviver com a dor da perda, e como a empresa foi de certa forma "responsável" pela tragédia blábláblá..... Mas quem pagará o tratamento da mãe que sofreu aborto expontâneo e vê todos os planos para a futura família se esvair em dor e prantos?

Não vejo sentido na cobrança de indenização por morte.
Se ela é causada ou não;
se ela ocorre no tempo certo ou não;
não vem ao caso.
O fato é que ela ocorre.
Não podemos prever quando chegará.
E não podemos evitá-la.

Sim, sou sensível em relação as famílias. Sim, estou indignado com tudo o que aconteceu. Não sou conformista e acho que devem haver mudanças profundas nas estrutas e nas políticas. Mas para mim indenização não é punição, não é ajuda, não é consolo.

Indeniza-se por punição, como se a morte pudesse ser evitada....

Mas quem pode evitar a morte?
Quem pode ser culpado, se não ela própria?
Quem algum dia estará pronto para receber a notícia de uma morte?

E quanto vale a vida?
Pois
não vejo sentido na cobrança de indenização por morte.

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posted by rafael at 01:45 | Permalink | 9 teste tua chave
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2.8.07
mistério: conhecer para se encantar
“Aprenda o que o mágico sabe e a magia se perde”
Manual do Messias-Richard Bach

Não sei em qual contexto essa frase está inserida, mas tendo-a assim sozinha, e por isso completa em si mesma, expresso a minha discordância quanto a sua idéia.

Entendo que ela esteja se referindo ao desencanto causado pelo conhecimento. Uma idéia muito difundida por sinal, essa de que o saber ao desvendar o segredado retira das coisas aquilo que tem de mais atraente: o mistério.

A mágica é um excelente exemplo e o autor foi muito feliz ao utilizá-la para transmitir sua idéia. Admiramos o mágico pelo fato dele esconder tão bem o "como" ele faz seus truques. Ficamos admirados com o mistério, com o segredo envolto em sua pessoa. Ficamos admirados por "não saber". E quanto mais não sabemos, mais expectativas criamos sobre "como é" que as coisas são.

Quanto menor o conhecimento, maior o mistério.
Quanto maior o mistério, maior a expectativa.

Quando descobrimos o segredo do truque, mormente pensamos: "não acredito, é simples assim!". E toda a expectativa criada, reduz-se a um sentimento de idiotice por não termos percebido a simplicidade do "como é" que as coisas são. A idiotice se refere ao fato não termos "aprendido" e "sabido" antes algo tão claro, e por isso nos sentimos também enganados.

Cada um tem sua história de decepção gerada por alguma expectativa frustrada, e todos poderiam contá-la e usá-la como argumento para mostrar como o conhecimento desencanta o mistério, pois o mesmo ocorre em nossos relacionamentos.

Quando desvela-se quem a pessoa realmente é, e quando ela mostra-se contrária aquilo a quem esperavamos que fosse, somos também atingidos pelo sentimento de idiotice por não termos percebido e aprendido "como é" que as coisas são, e enganados por não termos "sabido" de algo tão claro.

Quanto maior a expectativa, maior a decepção.

(E por isso, muitos preferem não saber, a sofrer uma decepção)

Mas penso que a culpa não é do conhecimento, mas da expectativa gerada pela falta dele. Porém, se a expectativa é gerada pelo mistério, e o mistério apoia-se na falta de conhecimento, então eu estaria propondo acabar com o mistério. E acabando com o mistério, eu estaria acabando com o encanto!

Pois bem, não desejo acabar com o encanto, pois o que seria da vida sem ele? Mas gostaria de propor a compatibilidade entre conhecimento e mistério. Gostaria de mudar a idéia "Quanto menor o conhecimento, maior o mistério" para "quanto maior o conhecimento, maior o mistério".

É possível? Eu penso que sim se entendermos esse mistério como "aquilo que não se deixa adivinhar nem calcular antecipadamente, mas como aquilo que precisa ser revelado, descoberto e conquistado". E aqui percebo o mal que se encontra na expectativa: ela tenta adivinhar ou calcular antecipadamente o conteúdo do mistério. E quando o mistério se apresenta diferente do adivinhado ou calculado, o resultado é a decepção e o desencanto.

Por sua vez o conhecimento não se antecipa, não adivinha, não calcula. Ele vai de encontro, e na vivência vai desvelando, despindo e percebendo que em cada detalhe conhecido, existem muitos outros, infinitos, infindáveis, para serem revelados. E são nesses detalhes, cada vez mais desconhecidos conforme são conhecidos, é que se revela o encanto do mistério.

A expectativa gera ilusão
A decepção, é a desilusão
E mistério não é ilusão:
é desconhecimento
E desconhecimento, é um convite para se conhecer

Por isso, não acredito que o não-saber nos proteja da decepção. Ao contrário, a decepção é forjada na falta de conhecimento, pois apoia-se no cálculo, na ilusão, na adivinhação: na expectativa. Enquanto o mistério:

"é aquilo que precisa ser revelado, descoberto e conquistado do outro".

A citação foi retirada do blog da Fabi.
Leia também: é bom desconfiar de ser desconfiado e metamorfosiando

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posted by rafael at 03:20 | Permalink | 15 teste tua chave
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