Numa das minhas confissões da madrugada, confidenciei para uma amiga:
"Atualmente eu prefiro a vida de solteiro.
Mas acredito que aproveitaria mais a vida se estivesse acompanhado.
Porém, ter companhia parece ser muito stressante, e não gosto de me incomodar.
Por isso vivo num dilema: quero aproveitar mais a vida, mas sou muito parado sozinho.
Mas ter alguém traz muita preocupação e stress...."
Muitos diriam que eu não aproveito minha vida de solteiro. E até acredito que tenham razão. Não sou alguém de muitos planos, não sonho alto, não tenho grandes desejos. Gosto da vida mansa, onde basta o suficiente, sendo a medida do suficiente bem baixa: um teto e dinheiro para comer, beber e comprar alguns livros. Por isso não me dedico a construção de uma carreira. Apenas o suficiente. Não ao luxo e ao lixo.
Não almejo grandes coisas. Fujo da tentação do poder e me escondo dos refletores da fama. Da vida desejo o mínimo: bons olhos para ver a beleza, bons ouvidos para escutar a sabedoria, boas narinas para encher os pulmões com o perfume dos campos, bons lábios para louvar e saborear a existência.
(mesmo que ela seja amarga)
Não beijo muito. Aliás, não beijo nada. Não fico. Gosto de amar. Amar para mim já é aventura suficiente. Não flerto por acaso. Não aceito a idéia de criar expectativas em alguém que não serão correspondidas. Gosto de receber e ser recebido inteiramente. Não gosto de rolo, e sim do decidido: é ou não é.
(No beijo te recebo e me entrego. Na cama nos tornamos um corpo-alma)
Por isso sou muito parado sozinho. Tenho o suficiente para mim. Mas sei que seria diferente estando com alguém. Outros sonhos, outros desejos, outras necessidades. Eu recebo o outro inteiramente, e vivo sua vida inteiramente. Não me anulo, pois me torno outro. Não me torno outro, pois eu permaneço, ainda que no outro. Não estou no outro, pois fui eu quem o recebi, e assim é ele quem está em mim. É minha alma em outro corpo; é meu corpo com outra alma.
(Não há "eu" e "outro": para mim, no amor existe apenas nós)
Dizem que sou sonhador, e com certa; talvez com grande; talvez inteiramente com a razão. É por isso que atualmente prefiro a vida de solteiro, pois, não encontro outro sonhador. Não encontro um outro corpo para habitar e outra alma para fazer morada. Encontro apenas pré-ocupação e stress. Encontro apenas o medo e a insegurança: corpos com grades e almas trancafiadas.
(O amor é um pássaro selvagem, que na gaiola deixa de ser o que é)
Numa existência por vezes amarga
No beijo quero me entregar e receber
Transubstanciar o "eu" e o "tu" num "nós"
Deixando o pássaro selvagem ser o que nasceu para ser
E fazendo de mim sonhador, amado e amante; um com você.
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