28.2.05
alguém explique, por favor!
Algumas vezes, o nosso porão é invadido por pessoas que não deveriam entrar. Mas elas chegam de mansinho, com aquele papo de querer ajudar a arrumar. No começo, parece que vai dar certo, mas no decorrer do tempo, percebemos que elas somente mudam as coisas de lugar, dificultando ainda mais o trabalho.

E por mais que vemos isso acontecer com as pessoas que estão ao nosso redor, todos estamos sujeitos a vivenciar isso. Todos não, porque odeio generalizações. Sou adepto do chavão "toda regra tem sua exceção". Por isso, quem sabe você não será o sortudo (a) a vivenciar aquelas histórias de amor cinematográficas.

Desculpe. Ainda não esclareci sobre o que estou escrevendo. Mas isso é decorrente do fenômeno que se chama "amor", ou melhor "estar apaixonado". Nosso coração e mente tem olhares somente para um único lugar esquecendo de todas as outras coisas. Porém, não estou apaixonado e não sei se isso é bom, ou se é ruim. Lembranças ainda rondam a minha mente. E isso muitas vezes me confunde. Não sei. Posso ser o único. Mas acredito que não seja.
O fato é que um amigo meu experimentou recentemente a dor da paixão. Não a dor da chegada, mas da partida. E isso me fez lembrar a minha história. Triste e doce história. Triste porque acabou; doce porque ainda pareço sentir o seu sabor.

Sei que palavras não servem de consolo agora, amigo. Gostaria de compartilhar um pouco da sua dor. Não serei ingênuo em dizer que "sei o que você está passando". Mas deixarei registrado aqui um pouco da bagunça que um certo alguém, como diria Lulu Santos, deixou no meu porão. Um trecho do meu diário:

"Hoje passei o perfume que ganhei dela. Parece que ela está aqui, presente com seu calor, bem ao meu lado. A cada inspiração sinto seu perfume. Perfume que me traz a memória tudo que vivemos juntos.
Pensei que tivesse superado. Mas percebo que não. Tenho sofrido muito nos últimos dias. Nunca fiquei assim antes. Como sinto falta dela! E como a esperança em tê-la de novo reacende a cada lembrança!
Muitos dizem que ela não nasceu para mim. Eu também penso isso. Mas existe algo em mim que ainda me faz desejá-la. Faz seis meses que terminamos. Ela já está namorando. Mas ainda desejo ela na mesma intensidade da quarta-feira em que me declarei. Desejo ela como em todos os nossos encontros.
Não sei por que, mas a desejo."

Já cantava o poeta Renato Russo:
"Quem inventou o amor? Me explica por favor..."

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posted by rafael at 21:59 | Permalink | 4 teste tua chave
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4.2.05
procura-se pelo senhor Miyagi
Esse nome não é estranho. Ainda mais para aqueles que não perdem um dia a "Sessão da Tarde". Você lembra? Sim, é ele. O mestre de Daniel Sam no filme "Karate Kid", um clássico da Rede Globo de televisão.

Para quem não lembra, o filme conta a história de um jovem saído de uma cidadezinha do interior para ir morar numa cidade totalmente diferente da sua, principalmente as pessoas que ali habitam. Como todo jovem de cidade grande, a pessoa que vem do interior é um atrativo para toda sorte de peripécias e zoações. E em casos mais extremos, como de Daniel Sam, esses indivíduos aculturalizados com a "cultura urbana" são também utilizados como um "bob class" (boxe no boneco de borracha), revelando assim a sua inferioridade perante o homo civilizatus que ocupa a "selva de pedra", onde, nesse caso, sobrevive literalmente apenas o mais forte.

No meio desse processo de seleção natural das espécies que habitam a cidade, surge nosso mestre Miyagi, sargento aposentado do exército americano, que vive sozinho desde a morte de sua esposa, ocorrida durante um trabalho de parto (quem lê os detalhes pensa que sou o maior fã da trilogia Karate Kid!!). Senhor Miyagi adota Daniel Sam, conhecido até esse momento como Daniel Larusso, como o filho que nunca teve. E se desenvolve a partir daí toda a trama do filme, que tem um desfecho brilhante com a vitória de Daniel Sam com um golpe nocauteador alá Van Daime, após ter apanhado muito, nos moldes do boxeador Rock.

É sobre essa simpática figura do senhor Miyagi que quero discorrer. Isso porque sinto falta de um senhor Miyagi em minha vida. Apesar do filme trazer uma visão um pouco tanto deturpada da sabedoria oriental, e o velho clichê "aprender a lutar para não precisar lutar" na intensão de acalmar os ânimos mais exaltados de alguns telespectadores, percebo que estamos com falta de "senhores Miyagis" para nos ensinar algo sobre a vida.

Isso porque o senhor Miyagi mostrou que aprendeu muito com a vida. Somente pode falar sobre ela quem a viveu. Interessante que todas as coisas que o querido mestre ao qual procuro aprendeu, foi ensinado pelo seu pai. Desde as artes marciais, até o cultivo de bonsai (que é sua marca registrada; observe o kimono de Daniel Sam). Talvez venha daí a riqueza de todos os rituais que ele cultivava: de meditar, cultivar as pequenas árvores, de praticar as artes marciais mesmo em idade avançada. Quando nossos pais investem em nós, certamente faremos que esse investimento se transforme em exemplo de vida para os outros.

Mas o que mais me chamou a atenção, e que mais motivou a me levar a procurar pelo senhor Miyagi, foi a forma como ele ensinou Daniel Sam a lutar. Pintando cerca, lustrando carros, lixando o chão, equilibrando-se no barco e lutando contra as ondas do mar. E é claro, Daniel Sam, como um bom discípulo de nossa época, não conseguia ver o proveito de todas essas atividades. Daniel Sam somente via como um bom treinador o mestre da academia concorrente, pois este tinha na parede medalhas, troféus, fotos, e uma postura que o nível social exigia que esse tivesse. Enquanto nosso mestre Miyagi em suas próprias palavras: "lutei apenas pela vida, não por competição".

E o treinamento não se resumia somente em trabalhos manuais. Mestre Miyagi ensinou Daniel Sam a receber e dar presentes. Foi arrumando a bicicleta de Daniel Sam que eles se aproximaram, dando um bonsai para Daniel que ele ensinou a responsabilidade, dando um carro demonstrou a sua confiança, dando seu kimono revelando a esperança em Daniel Sam.

Por fim, senhor Miyagi cativa meu coração quando se encoraja a tomar as dores de Daniel Sam. Faz isso quando resolve treiná-lo, quando vai até a academia rival para pedir paz, quando conversa sobre a paquera de seu díscipulo,quando fala que Daniel Sam não precisava mais lutar.

Ah senhor Miyagi! Onde estará o senhor agora? Preciso tanto de alguém que me fale sobre a vida. Que caminhe comigo e me mostre onde cada passo me levará. Que conte histórias de sua vida para eu ver como a minha é tão simples. Que de menos presentes e mais responsabilidades para que eu aprenda que vida se constrói a partir de mim e de como eu me lanço em seus braços.

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posted by rafael at 01:03 | Permalink | 4 teste tua chave
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2.2.05
ter, fazer, acontecer
Todos temos a necessidade de estarmos inseridos em um meio social. E ser aceito em determinado meio, significa que estamos de acordo com os padrões exigidos por esse para que se possa pertecenter a ele.

Geralmente as exigências para se entrar num grupo são muito altas. E essas exigências sempre causam conflitos em nós porque começamos a comparar aquilo que é exigido pelo grupo com aquilo que percebemos em nós, o que gera muitas criticas, geralmente destrutivas como:

"Todo mundo na minha classe é melhor do que eu. Tenho mais espinhas, o maior nariz, a boca mais torta e o pé mais desengonçado do pedaço! Sou baixa demais! Estou quatro quilos acima do peso ideal! Que vexame, não sei nadar! Sou um grosso, jogar bola não é comigo! Ninguém ri das piadas que eu conto, sou absolutamente sem graça... "

Também pode acontecer o contrário. Pode ser que você seja “uma pessoa linda, bela voz, ótimo falar, olhar envolvente, raciocínio rápido, possui grande conhecimento cultural, enfim, tem muitas coisas pelas quais a maioria das pessoas se apaixonam facilmente”.

Por termos muitas qualidades, pode acontecer que desprezemos as outras pessoas por elas não terem as mesmas qualidades que temos e excluir elas do nosso meio de convívio. E isso é tão ruim quanto permanecer fora de um grupo, já que somos os causadores da infelicidade de alguém.

O que devemos perceber é que todas essas visões que temos de nós, sejam boas ou más, na maior parte das vezes são construídas mediante a comparação daquilo que vemos nos outros, com aquilo que achamos que somos. E essa comparação é sempre exterior.

Digo exterior porque somente olhamos para aquilo que o grupo “tem” e “faz” e comparamos com aquilo que “temos” e “fazemos”. E “ter” e “fazer” são como um espelho que reflete aquilo que somos. Mas o que vemos no espelho é somente o reflexo de quem sou, e não o meu “eu” verdadeiro. “O espelho de palavras e atos manifestam apenas uma parte do meu ser”.

É por isso que tudo aquilo que fazemos geralmente denuncia aquilo que pensamos sobre o mundo e sobre nós mesmos. Principalmente sobre nós mesmos. O problema é que nem sempre somos sinceros conosco porque precisamos estar de acordo com os padrões estabelecidos. E grande parte das vezes não estamos em acordo com os padrões exigidos pela sociedade. E isso faz com que sejamos meros desconhecidos. E para que nos tornemos conhecidos, é preciso que algo aconteça. Essa é a palavra chave: “acontecer”!

Geralmente para "acontecer" algo, acreditamos que temos que ter ou fazer algo. E isso não é errado. Para que algo aconteça necessariamente precisamos "ter" ou "fazer" algo. É aí que se encontra o problema. Porque geralmente "temos" ou "fazemos" algo que não está de acordo com aquilo que somos. É o que chamamos de máscaras. Máscara porque ela esconde quem está por detrás dela. E muitas máscaras exigem um esforço muito grande para poder encena-la. Essa encenação sustenta uma auto-exigência tão forte, que faz surgir uma desvalorização sobre si, “pois a cobrança é muito grande com o ter, fazer e acontecer”.

Por isso, gostaria de propor um caminho diferente. Ao invés de nos preocuparmos se o que "temos" e "fazemos" está de acordo com o grupo, proponho que o nosso "ter" e "fazer" estejam de acordo com o nosso ser. Ao invés de olharmos para fora, vamos fazer o caminho para dentro. Mas quero advertir: é tão difícil andar para dentro quanto é para fora.

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posted by rafael at 16:15 | Permalink | 2 teste tua chave
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1.2.05
No porão da minha alma
Um nome estranho?
Talvez para aqueles que jamais se arriscaram a olhar para dentro de si mesmos.

Pessimismo nesse nome?
Acredito que não. Apenas uma metáfora na busca demonstrar como vejo o meu interior.

Na verdade, esse nome não é criação minha, mas é o título de uma música do Fruto Sagrado. Identifiquei-me com a frase, ainda mais com a letra da música porque é uma das poucas que conheço com a coragem de admitir a nossa bagunça interior. Sim bagunça, pois é isso que porão geralmente significa.

Não quero generalizar e dizer que todos temos uma alma bagunçada. Mesmo porque iria contra tudo aquilo em que acredito. E também porque conheço pessoas - pouquíssimas é verdade - que tem sua alma muito bem organizada.

(mas a minha....)

A imagem do porão é interessante. Nos filmes, esse lugar é na maioria das vezes tratado como um lugar sombrio. Quem não lembra do filme "Meus vizinhos são um terror", onde toda a vizinhança acreditava que os estranhos moradores de uma antiga casa enterravam os mortos no porão da mesma. E para desvendar o mistério, Tom Hanks, com sua pá, cavouca até conseguir estourar o encanamento de gás e mandar a casa pelos ares. Ou então do filme "O iluminado", no qual o porão era local em que ficavam guardados os aquecedores que mais pareciam fornos para cremação de mortos (se bem que um deles quase serviu para isso).

Na vida real, quando esses lugares não são alugados para pessoas que não conseguem pagar um local digno para se viver, sendo obrigadas a tolher a privacidade de um verdadeiro lar, aguentando assim os pés vizinhos quase derrubando o assoalho, além do falatório dos moradores de cima (que por sinal são os donos do porão), o porão quase extinto em nossos dias é usado como incubatório para a criação de aranhas, baratas, ratos e toda a espécie de seres vivos que parecem ter sido criados somente para causar nojo nas mulheres (e nos homens, apesar de não se admitir muito).

Também não podemos esquecer que é nesse local onde são guardados todos os objetos que por preguiça não são levados ao lixeiro, ou por se iludir que um dia eles serão reutilizados (acredito que essa última seja a desculpa mais utilizada). Enfim, é no porão onde todas as coias que não se deseja mais utilizar por não ter mais serventia são guardadas.

Além da bagunça que caracteriza quase a totalidade desse aposento - que é o único onde o arquiteto não entra para decorar -, grande parte deles também possui um clima meio "pantanoso". É. Em alguns deles você encontra mais espécies de fungos e bactérias do que em muitos lugares onde esses deveriam naturalmente estar. É claro que isso se deve ao fato da umidade, ausência de luz solar, ventilção e de tantos outros fatores que permite que tal adaptação aconteça.

Pois bem. De modo geral acredito que seja assim que nosso tão desprezado porão se apresenta. E não creio que o porão da minha alma esteja muito diferente. Por isso, estou afim de dar uma ajeitada nele. Mas não quero ir sozinho. Tenho medo. Ele é escuro. A única luz que entra é através de uma pequena janela. A janela é meu coração. E a luz, são aquelas pessoas que me ajudam de uma forma ou outra a olhar para dentro.

Por isso, abro as portas "do porão da minha alma" para todos aqueles que quiserem conhecê-lo comigo.

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posted by rafael at 17:40 | Permalink | 2 teste tua chave
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