19.12.07
ser forte para tomar as dores
tuas em minhas
todas em nossas
mesmo tu temendo compartilhar

ter fé para deslocar os montes
tirá-los do teu caminho
aplainar nossas passagens
mesmo tu temendo atravessar

quero ser um contigo
deixe tu assim ser comigo
nas tuas dores
em nossos montes
por misera fé
mesmo tu temendo eu te amar

dá-me tua cruz
deixa nela eu estar
com indefeso peito
para em abertos braços

teus montes e dores
por ti superar

[mesmo eu temendo tu não me amar]

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posted by rafael at 01:50 | Permalink | 12 teste tua chave
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16.12.07
deus mente
desmente
demente


mente


deus
cala
so-mente.

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posted by rafael at 21:40 | Permalink | 6 teste tua chave
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12.12.07
Cecília Meireles
Tu tens medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.

E então serás eterno.



(Cânticos. Moderna, 2003).

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posted by rafael at 15:35 | Permalink | 4 teste tua chave
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8.12.07
Muss es sein?
Com um sorriso sereno, respondeu suavemente, imitando o som da melodia de Beethoven: - Muss es sein? Tem de ser assim?
Tomas disse mais uma vez: - Sim, tem de ser! Ja, es muss sein!

Ao contrário de Parmênides, Beethoven considerava o peso como algo de positivo. "Der schwer gefasste Entschluss", a decisão gravemente pesada está associada à voz do Destino ("Es muss sein!"); o peso, a necessidade e o valor são três noções íntimas e profundamente ligadas: só é grave aquilo que é necessário, só tem valor aquilo que pesa.

Essa convicção nasce da música de Beethoven, se bem que seja possível (ou talvez provável) que ela seja mais da responsabilidade dos exegetas de Beethoven do que do próprio compositor; todos nós a compartilhamos de uma certa forma hoje em dia: para nós, o que faz a grandeza de um homem é ele carregar seu destino como Atlas carregava sobre os ombros a abóbada celeste. O herói de Beethoven é um halterofilista que levanta pesos metafísicos.

(Milan Kundera. A insustentável leveza do ser. Nova Fronteira, 1985. )

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posted by rafael at 23:25 | Permalink | 3 teste tua chave
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5.12.07
Raul, quase!
Sonho que se sonha só
é só um sonho que se sonha só

Sonho que se sonha junto
é [discussão na] realidade

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posted by rafael at 14:54 | Permalink | 3 teste tua chave
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2.12.07
como pode ser horrível ter os sonhos realizados se a nossa frustação é justamente não conseguir torná-los reais?!?!
_Fujam! Virem o navio e fujam! Remem para longe desta maldita terra! Salvem suas vidas!
_Acalme-se - disse Ripchip - e diga-nos qual é o perigo. Não temos o
hábito de fugir. O estranho estremeceu terrivelmente ao ouvir a voz do rato, no qual ainda não havia reparado.
_Seja como for, têm de fugir - arquejou. - Esta é a ilha onde os Sonhos se
tornam realidade.
_É a ilha que eu procuro há muito tempo - disse um dos marinheiros. - Se tivesse desembarcado aqui, já estaria casado com Alice.
_E eu teria encontrado Tomás vivo - disse o outro.
_Loucos! - vociferou o homem, batendo com os pés no chão num acesso de
raiva. - Por causa de disparates como esses vim parar aqui, e seria melhor ter
morrido afogado ou nunca ter nascido. Ouvem bem o que digo? Aqui os sonhos tornam-se vivos e reais. Não os devaneios; os sonhos.

Esse é um trecho do livro A Viagem do Peregrino da Alvorada de C.S. Lewis. É o quinto livro da série que compõe As crônicas de Nárnia, cuja história está sendo passada para as telas do cinema, pela Disney. Permita-me contextualizar você a esse trecho, para evitar a idéia de que estou achando chifre na cabeça de burro.

Os heróis da história lançaram-se ao mar na busca de amigos desaparecidos. A rota da viagem é conhecida somente em sua primeira metade, sendo o restante desconhecido e temido por todos os habitantes de Nárnia. Conforme avançam, os aventureiros descobrem toda a magia que ronda as várias ilhas desconhecidas. Nesse capítulo, os heróis chegam à ilha batizada de 'A Ilha Negra', porque aí dominava completa escuridão, onde "o mar e o céu desapareceram, e a única coisa que indicava onde terminava o navio era a lanterna da popa".

No trecho acima, os aventureiros acabam de resgatar um habitante da ilha, que, ao ouvir o navio, clamava: "Piedade! - gritou a voz. - Piedade! Mesmo que vocês sejam um sonho, piedade! Levem-me a bordo, mesmo que seja para me matar! Mas não desapareçam, pelo amor de Deus, não me deixem nessa terra horrível!"

É claro que não posso deixar de me perguntar assim como tripulantes do navio assim fizeram ao ouvir o alerta do resgatado: como pode uma terra que torna os sonhos em realidade ser um local horrível?!?! Como pode ser horrível ter os sonhos realizados, se a nossa frustação é justamente não conseguir torná-los reais?!?! E a resposta de nosso amigo desnuda por completo os marinheiros, revelando que seus tão pretensos sonhos não passavam de devaneios. E o que levou o resgatado chegar a essa conclusão? Passar sete anos morando sozinho na completa escuridão.

Não recordo de Lewis ter tido algum dia contato com a psicanalise, mas ele acertou em cheio. Aquilo que achamos ser sonhos não passam de fantasias criadas para tentar mascarar um pouco nossa injusta e doentia realidade, um meio pelo qual podemos imaginar um mundo que se adeque aos nossos desejos. E aquilo que achamos ser sonho jamais podem ser negativos, nunca. Esses são chamados pesadelos. Os sonhos guardamos; os pesadelos apagamos.

Mas a psicanalise diz que o sonho é a via de escape do inconsciente. O inconsciente é a caixinha na qual guardamos tudo aquilo que não queremos que permaneça no consciente. E essa caixinha é aberta quando dormimos....na escuridão. Ao dormir corremos o risco de lembrar daquilo que queremos esquecer. Talvez esse seja o motivo de nosso medo do escuro. Temos medo de encontrar um fantasma que ronda nossas lembranças.

Não posso deixar de evocar uma pergunta de Sponville: "Quando estou sozinho na floresta, tenho medo por estar sozinho ou por ter alguém comigo?" E me concedo a liberdade de parodia-lo: "Quando estou sozinho no escuro, tenho medo por estar sozinho ou por estar acompanhado dos meus sonhos?" Por isso acredito ser muito corajoso aquele que deseja ter seus sonhos realizados, pois esse tem coragem de encarar a si. Enquanto isso a maioria se frusta por não ter seus devaneios realizados, e sinto dizê-lo que nunca serão, pois não passam de fantasias.

A acolhida dos marinheiros frente ao alerta do resgatado não poderia expressar melhor esse medo de encarar a si:

_Continuem a remar - bradou Caspian. - Remem por suas vidas. Sempre em linha reta, Driniam. Pode dizer o que você quiser Rip. Há coisas que um homem não pode enfrentar.



texto reciclado. desculpem!

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posted by rafael at 23:40 | Permalink | 4 teste tua chave
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