30.6.07
uma lágrima de esperança
A primeira lágrima caiu e encontrou sua mão aberta, sobre os joelhos, de palma voltada para cima, como alguém que espera do céu alguma divina dádiva. Mas não esperava uma dádiva em forma de lágrima. Não dessa lágrima.

Levantou a fronte e olhou-se no espelho. Acompanhou o caminho da nova lágrima que nascia. Desceu vagarosa, roçando sua pele. Era fria tal qual estava seu coração. E não poderia ser diferente: de uma fonte gélida não se extrai calor algum.

A lágrima tocou seus lábios, mas não arriscou prová-la. Não deveria ter o costumeiro sabor salino. Certamente adquirira um gosto amargo e insuportável; o mesmo da sua vida.

Não interrompeu o caminho da lágrima. Deixou que ela se desprendesse de seus lábios e fosse ao encontro do solo. Cria ser necessário deixá-la completar seu destino, assim como deveria também fazer. Nada de loucuras. Nada de sensatez. Nada de planos - O destino cuida de si.

A lágrima caía.
E com ela, despedia-se a esperança restante.
Durante esse inifinito espaço/tempo entre lágrima e solo,
o telefone chamou.

E viu-se um novo sorriso nascer;

antes de a lágrima no solo sumir,

e da esperança, com ela, esvair.

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27.6.07
cinco encontros inesquecíveis
A Kaká convidou-me para participar de um Meme com a seguinte questão:

Cinco livros que tenham sido referenciais de alguma forma e que ainda estão disponíveis no mercado literário
.

Tarefa árdua essa visto serem apenas cinco livros e por eu identificar-me mais com os autores(as) do que propriamente com sua obras. Mas acredito valer o esforço mesmo cometendo algumas injustiças...

Vamos lá!

Demian - Hermann Hesse. Meu escritor favorito. Esse romance narra a história do jovem Emil Sinclair na sua passagem da adolescência para a maturidade. Hesse capta com incrível sensibilidade os conflitos juvenis vivido pela maioria de nós e escreve com tamanha poesia, que foi capaz de influenciar uma geração inteira com essa obra. E ainda influencia muitas outras, sendo eu um exemplo...

Sidarta - Hermann Hesse. Romance narrando a história de Sidarta Gautama, um jovem brâmane que sai ao mundo na busca de um destino para si. Jovem de espírito rebelde e questionador, mas dotado de um profundo sentido de paz e serenidade, que encontra a plenitude dessas palavras ao encontrar a si mesmo.

A insustentável leveza do ser - Milan Kundera. Obra magna de um escritor mestre em ver a vida como uma grande e feliz crise. Nessa obra, Kundera analisa a vida a partir de dois profundos problemas filosóficos: a leveza e o peso; e o eterno retorno. Tudo permeado de muita irreverência e ironia. Leitura difícil? Negativo. Certamente você se identificará com uma das personagens e seus conflitos...

O amor nos tempos do cólera. Gabriel Gárcia Marquez. Nas indicações anteriores cometi injustiças, mas aqui ela é gritante. Fiquei entre "Cem Anos de Solidão" e "O Outono do Patriarca", sem contar outros livros da imensa bibliografia desse gigante da literatura. Mas atrevo a dizer que esse me tocou mais por um simples motivo: é um romance no qual grita-se no mais alto e belo som que o amor não morre com tempo.

Homem algum é uma ilha - Thomas Merton. Monge trapista, Merton é um dos poucos homens que ao meu ver entendeu o real significado da vida espiritual. Densos, filosóficos e extremamente reflexivos, os textos reunidos nessa obra revelam-me a possibilidade de algum dia chegar a ser sábio, vivendo uma vida de paz e serenidade.

Livros, livros!!!. Grandes companheiros, excelentes amantes, misteriosos universos... Convido você a ler outros textos nos quais falo sobre leitura ( 1, 2, 3)

Por fim, como manda a regra do Meme, passo o problema para mais cinco:
Allan;
Erika;
Fabio;
Mariana;
Tiago.

Não deixem de conferi-los!

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posted by rafael at 22:14 | Permalink | 3 teste tua chave
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26.6.07
benignidade
Que o mundo vá a merda! – pensou diante da situação. Nunca imaginou ser esse o final. Era senhor de um pensamento puro e ingênuo quanto ao mundo. Não era inocente: sabia de sua ingenuidade e aguardava o dia em que a pureza se transformaria num misto de amargura, ódio e desprezo. Mas viveu, daquele modo puro e ingênuo, até o dia de hoje.

Não dizia nada. Apenas repetia consigo: - está tudo bem, não há com que se preocupar. Na vida, os bons sofrem para os maus serem felizes. Afinal, qual seria a coerência de ser bom quando se deseja apenas a felicidade de si mesmo? A bondade traz consigo a tristeza e o sofrimento, não importando a quem se dirija o bem de ser bom. Os bons são felizes sendo tristes; os maus são tristes sendo felizes.

Esforçava-se para crêr nisso.

Sabia tudo ser apenas discurso. Contudo, precisava crêr que não, pois era dono de um orgulho irrenunciável. Tudo o que era estava fundado aí: no seu orgulho de ser. Odiava a idéia de não-ser, ou ser alguém diferente daquele construído durante toda sua vida. Ia contra si para não ir contra o outro apresentado aos demais.

- Devo continuar a ser bom para os outros, mesmo isso sendo mau para mim.

E esforçava-se para crêr nisso.

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posted by rafael at 15:26 | Permalink | 1 teste tua chave
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22.6.07
como lidar com o absurdo?
Certa vez, brincando com o significado das palavras eu disse:

"A vida só ganha sentido quando se pensa na morte, porque a morte é o único sentido da vida"

Talvez eu tenha sido muito restritivo ao dizer "só ganha", pois tantas pessoas - e principalmente os jovens - encontram vários sentidos para a vida sem levar em conta a morte. E para muitos - senão para a maioria - constatar a morte como um fim inevitável, causa mais danos do que motivação para viver. A morte torna a vida um absurdo....

Eis a grande questão que permeia a vida: como lidar com o absurdo?

Penso que a resposta mais oferecida a essa pergunta é a negação da resposta. De fato, poucas pessoas, ao dar-se conta da questão, aproveitam o tempo refletindo sobre ela. E não creio essa ser uma atitude de todo errada, pois, enfrentar o absurdo é uma tarefa árdua e exige muito vigor e estrutura de quem se propõe a enfrentá-la.

O problema de chamar o absurdo para um conversa franca está no fato do diálogo ser um monólogo. Quando nos dirigimos ao absurdo, o máximo que ouvimos é o eco das nossas indagações. Esse eco soa como se o absurdo estivesse jogando contra nós todas as nossas questões sobre e acusações contra ele.

E quem consegue enfrentar as próprias perguntas?
Quem é capaz de suportar a nudez pela qual é submetido quando se é questionado?

De todos os que enfretaram o absurdo, admiro o escritor de Eclesiastes. Engana-se quem pensa ser o existencialismo no século XX o pregador do absurdo da existência. Muitos séculos antes de Cristo o escritor de Eclesiastes constatara a vida como pura vaidade, e tudo o que se faz nela é como correr atrás do vento. E o mais interessante no livro bíblico é o próprio deus tornar a vida um absurdo, na visão do escritor. Ainda que no final do livro ele afirme como o essencial para a vida o temor a deus e a obediência aos seus mandamentos, no decorrer da sua reflexão deixa escapar que até isso, dito como essencial, é absurdo...

(talvez deus seja o maior dos absurdos)

Tenho o livro bíblico em mãos e passo os olhos sobre uma possível resposta de como enfrentar o absurdo encontrado ao se constatar a morte como inevitável:

Pois os vivos sabem que morrerão,
mas os mortos nada sabem;
para eles não haverá mais recompensa.
Para eles, o amor, o ódio e a inveja
há muito desapareceram;
nunca mais terão parte em nada
do que acontece debaixo do sol.
(Eclesiastes 9.5-6)

Participar da vida, mesmo ela apresentando-se absurda. Quem sabe não seja essa a resposta trazida pelo eco das nossas perguntas...

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posted by rafael at 00:57 | Permalink | 4 teste tua chave
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21.6.07
cadê você, eu vim aqui só pra ter ver!!!
Quero pedir perdão pela ausência de palavras
mas final de semestre na faculdade é um caos,
e também o acesso entre meu cérebro e coração está passando por uma recauchutagem...

Tentarei voltar o mais rápido possível.... (mas não deixe de dar uma espiadinha todos os dias, ok?)

Você pode me encontrar no msn se quiser: rafaelfilos@yahoo.com.br

Obrigado a você, doador de existência e sentido as minhas palavras....


rafael
 
posted by rafael at 12:26 | Permalink | 0 teste tua chave
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14.6.07
duas almas, uma pessoa
Um comentário deixado no blog do Fábio, irmão na fé, na esperança e no amor.

Olá Fábio

Seu texto fez-me lembrar de um conto do Machado de Assis, "O Espelho". Nele, Machado diz que a criatura humana possui duas almas: uma que olha de dentro para fora, e outra de fora para dentro. A primeira refere-se aos nossos olhos; a segunda ao olhar dos outros. Precisamos das ambas para viver, pois as duas nos completam. Quando perdemos uma das metades, perdemos naturalmente metade da existência. Ainda acontece alguns casos, no qual perder a alma exterior implica em perder a existência inteira. Por isso a importância de não se deixar levar apenas pelos olhos exteriores.

Para mim, aqui está a grande dificuldade de saber quem somos, pois estamos perpassados por esses dois olhares. Eis o nosso grande desafio: conciliar as duas almas a fim de nos tornar uma e autêntica pessoa...

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posted by rafael at 11:45 | Permalink | 2 teste tua chave
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12.6.07
12 de Junho: dia de pensar no amor
Novamente, a minha companhia de dia-dos-namorados é a reflexão. Mas esse ano não desejo pensar muito (afinal, pensar faz lembrar que apalpar é muito melhor), e por isso, listei todos os textos nos quais refleti sobre amor e relacionamento. A ordem é dos mais antigos para os mais recentes.


Pensar é bom, mas amar...

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posted by rafael at 11:27 | Permalink | 1 teste tua chave
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10.6.07
um mundo virtual nada real
Perguntaram para mim se o mundo virtual existe. Eu respondi - Claro! Ele existe virtualmente!! Respondida a questão, fui dar umas voltas por esse mundo sedutor. E cá entre nós: é muito diferente do real.

Eu não sou um turista da net. Na verdade conheço muito pouco. Melhor. Não conheço nada. Também não tenho muito interesse em conhecê-lo mais. Por natureza, sou uma pessoa desligada do mundo real. Se eu resolver desbravar o universo virtual, daí sim minha vida real deixará de existir, pois, desconfio que o universo virtual é muito maior do que o real, visto a nossa imaginação e criatividade ter um limite quase ilimitado. E entre conhecer o real e o virtual, prefiro o primeiro.

Mas voltando ao virtual, descobri que ele realmente distoa muito do real. Dei-me conta disso ao gastar algumas horas no meu orkut. Alguns detalhes muito interessantes:
  • de 46 amigos, 35 são mulheres. E creio não ser pelo fato delas estar em maioria no mundo;
  • de 10 fãs, 6 são mulheres. Não sei qual é a fórmula do sucesso;
  • de 188 recados, 174 são de mulheres. E em muitos deles está escrito "te amo" ou algum termo correlato.
  • nos sorrisos, cubos e corações, tenho 100% em todos. Depois perguntam por que sou tão convencido.
Olhando para esses dados, verifiquei que o mundo virtual difere muito do real. Pelo menos, no meu caso, a realidade não-virtual não se apresenta da mesma forma como ocorre virtualmente.

O mais interessante de tudo isso, é que esse mundo virtual não fui eu quem criei como fazem os participantes daquele "Second Life". Para mim o virtual não é uma segunda vida; aliás, nem o considero assim. Já é um sufoco ser criativo na vida real, imagina criar e administrar outra...

Mas fuçando agora no orkut e vendo essa beleza de mundo virtual no qual me inseriram, não posso deixar de pensar: "Bem que tudo isso poderia acontecer na realidade não-virtual..."

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posted by rafael at 14:10 | Permalink | 4 teste tua chave
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7.6.07
proposital despropósito
Segue um comentário deixado por mim no blog no Tiago Brene, amigo para além do mundo virtual.

Sabe Brene,
Não tenho certeza se você assim se considera, mas eu já fui pessimista por um tempo (curto, é verdade, mas não deixa de ser tempo).

Já achei o criador um grande fanfarrão;
Já vi despropósito na criação;
Já pensei que o tal do amor era prepotente;
Já pensei que a ignorância dificulta a felicidade.

No fim, percebi que o pessimista é tão descontente com o mundo quanto o otimista. A diferença está em que o primeiro resigna-se frente a realidade; o segundo age sobre ela.

Sou otimista? Não sei. Mas também não sou pessimista, pois para mim o despropósito soa como um sussurro do criador nos confidenciando o mistério da liberdade: "na falta de propósito, dê o propósito que queres pequena criatura".

E para mim, resignar-se frente a criação é negar a possível liberdade oferecida pelo despropósito propositalmente deixado pelo criador.

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posted by rafael at 01:26 | Permalink | 1 teste tua chave
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