Depois de passado um ano e algumas horas dessa madrugada perambulando pela casa e rolando na cama - e nem sei se ela continua lendo meus esporádicos textos -, alguma coisa aconteceu na minha cabeça - e eu que estou querendo sair dela - e uma resposta se formou (meio cartesiano esse método, não?!?!).
De certa forma concordo com o problema por ela apresentado em relação ao amor. Certamente a palavra está vazia de significado, ou melhor, está tão cheia de significados que se torna impossível significar alguma coisa. Para quem tem alguma dúvida sobre esse fato, basta passar um dia ouvindo uma rádio especializada em música sertaneja, ou então ficar uma noite zanzando por aí para ver o que as pessoas dizem ser o "amor".
Mas ainda assim eu continuo crendo no amor, apesar dos altos e baixos - ultimamente mais baixos do que altos - pelos quais tenho passado. E creio por dois motivos: 1) o amor é uma espera ativa; 2) o amor ganha significado no corpo.
Penso que a maior parte das pessoas esperam um grande amor, e isso pode ter várias causas: assitir muitos filmes, ler muitas histórias, e acreditar no provérbio "quem espera sempre alcança". Mas vale lembrar que filmes são filmes, histórias são histórias e quem espera demais nunca alcança, ou, pra não ser tão pessimista, alcança tarde demais.
Mas a causa principal está na forma como compreendemos a espera. Geralmente ela é vista "passivamente", isto é, sentar e ver o que acontece. E no final das contas, o que de fato acontece é quem está de pé sempre entra antes e pega assento no ônibus - isso quando não ocorre de dormirmos sentado no ponto e perdê-lo.
Por isso esperar um grande amor exige uma espera ativa. É tipo esperar para entrar na faculdade - a gente espera estudando, ou esperar para entrar no emprego dos sonhos - a gente espera construíndo um currículo, ou esperar para ser magro - a gente espera fazendo regime. Esperar um grande amor é buscar nos transformarmos em pessoas melhores, e fazer o mesmo com quem amamos. Transformar o outro numa pessoa melhor, nos torna pessoas melhores, e esse movimento é o mínimo exigido pelo amor.
E quando procuramos transformarmos uns aos outros damos significado à palavra amor. A grande questão hoje é que se canta amor, se escreve amor, se fala amor, se pensa amor, se sonha amor, mas não se vive amor. Já escrevi a algum tempo sobre existir apenas provas de amor, concordando com a música dos Titãs.
Toda palavra somente tem significado quando ela ganha "carne" em nosso corpo. Que adianta falar de carinho se não nos tocamos? E falar de saudade se não damos notícia? De simpatia se não sorrimos e empatia se não choramos juntos? Nosso corpo é sem sentido por ausência de palavras, nossas palavras sem sentido por ausência de um corpo, e tudo isso torna a vida sem sentido e os sentidos sem vida alguma.
Se creio na existência de um grande amor? Sim, e não apenas de "um grande amor", mas de "vários grandes amores". Porque não estou disposto a esperar sentado por um, mas desejoso em transformar a todos em amantes, e não apenas cantando, recitando ou pensando, mas fazendo do meu corpo um grande texto vivo.
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