Quero sair da minha cabeça. Preciso encontrar outro lugar de onde possa olhar o mundo de uma maneira menos gélida. Um lugar onde eu possa sentir o mundo e não mais defini-lo. Um lugar no qual a falta de sentido da vida faça realmente sentido. Um lugar consciente da injustiça da vida, mas cheio de uma esperança inexplicável.
Quero encontrar o caminho do coração. Pois dizem ser nele que habitam os sentimentos de alegria e tristeza da vida. Quero sentir ódio do mal existente, quero ser frustado nas minhas expectativas, quero ter minhas emoções confundidas por uma louca paixão, quero sofrer por amor. Quero sentir o frio na barriga quando alguém especial olhar para mim, sentir medo de não ser correspondido, sentir angústia pelo sofrimento dos meus amigos e inimigos. Quero sentir vergonha da minha covardia, revolta pela minha passividade, remorso pelos meus erros. Quero morar no coração, pois nele não se busca explicação, mas vive-se a vida nua e crua.
Quero encontrar o caminho do corpo. Pois é no corpo que vivenciamos os prazeres e desprazeres da vida. Quero viver no corpo para poder sentir o carinho de um abraço, a alegria de uma dança, a contrição das bochechas num sorriso, as lágrimas de um choro. Quero viver no corpo para poder sentir o sabor do alimentos, sentir sede e sacia-la, sentir frio e aquecer-me, calor e resfriar-me. Quero viver no corpo para poder sentir o quanto uma mulher mexe comigo ao sentir seu cheiro, seu toque, ao acompanhá-la no seu andar, na maneira como toca o cabelo e morde seus lábios. Quero ver mais, respirar mais, ouvir mais, tocar mais, mas falar somente quando for para expressar o prazer do corpo. Quero morar no corpo, pois nele não se busca explicação, mas vive-se a vida nua e crua.
Quero sair da minha cabeça, pois quando ela explica, desencanta. Quero mais vida sentida e menos vida compreendida. Quero apanhar na prática e deixar de proteger-me na teoria. Quero sair da minha cabeça e conhecer a vida a partir das contradições do coração e dos desejos do corpo. Quero a vida nua e crua.