12.8.06
é bom desconfiar de ser desconfiado
Eu "confio desconfiando", pois quando eu desconfio as minhas chances de sair decepcionado são bem menores seu eu confiasse completamente. Se a minha desconfiança estiver errada, ótimo, pois prova que eu estava errado e terei a grata surpresa de ser surpreendido por coisas boas. Se a minha desconfiança estiver certa, ótimo, pois comprova aquilo que eu sabia e não terei a ingrata surpresa de ser decepcionado.

Para muitos essa idéia deixa a impressão de estar numa posição muito cômoda nas mais diversas situações. Aqueles que defendem essa idéia pensam estar seguros na "confiança" da sua "desconfiança", pois, estando certo ou errado, a resposta será sempre positiva, ou menos negativa. Mas é claro, e aqueles que atentam para os detalhes já perceberam: tudo não passa de engodo. E isso é quase óbvio. Mas como é quase óbvio penso caber uma reflexão: como é possível confiar em algo desprovido de confiança? Parece-me que a resposta a essa questão exige primeiramente resposta a uma outra: existe algo confiável?

A pergunta pela existência de algo confiável nos conduz a procura de algo que possua a qualidade da confiança. Bom, nesses meus curtos vinte e três anos de idas e vindas não encontrei nada que possua tal característica. E para escândalo de muitos, até deus entra nesse grupo. Por favor, antes de pensarem que estou condenado, pensem comigo: o que é essa qualidade confiança?

Atualmente penso que confiança é sinônimo de expectativa e digo o porque. Quando compramos algo, o fizemos porque temos determinadas expectativas para serem preenchidas. Quando ele não preenche essas expectativas qual a nossa reação? Exatamente essa: pensar duas vezes antes de adquiri-lo novamente.

Quando vamos a determinado local, vamos porque temos expectativas para serem preenchidas. E quando isso não ocorre qual a nossa reação? Pensar duas vezes antes de voltar novamente. Quando nos relacionamos com pessoas de maneira mais intimista, o fizemos porque temos expectativas para serem preenchidas. E quando isso não ocorre qual a nossa reação? Prontamente generalizamos e olhamos todas as pessoas de canto de olho. "Pensar duas vezes" e "olhar de canto de olho" nada mais é do que desconfiar.

Toda expectativa não correspondida gera decepção. Toda confiança quebrada gera decepção. O esperto "desconfiado" poderia argumentar afirmando que isso comprova a tese dele de que nada seja digno de absoluta confiança, pois nada possuí tal qualidade. Contudo essa afirmação não passa de uma contradição, pois, se algo é digno de confiança, é porque ele não possuí essa qualidade.

Ora, se a confiança não é algo presente na coisa, como ela existe? Ela existe porque é uma atitude daquele que confia. A confiança não é um substântivo, mas um verbo. Não é uma qualidade, mas uma ação. Da mesma forma a expectativa. Não é algo da coisa, mas algo que lançamos sobre ela. A expectativa é a espera de uma determinada resposta das exigências lançadas sobre algo. Por isso a confiança e a expectativa têm algo de esperança.

Assim, quando desconfiamos de algo, o alvo da desconfiança não é o "algo", mas "nós". A desconfiança não está no algo, mas na nossa visão sobre o algo. Portanto, não é possível confiar desconfiando, pois na verdade estamos desconfiando da confiança. E sendo a confiança a atitude daquele que se dirige a algo, então estamos desconfiando de nós mesmos.

Talvez os Titãs tenham razão: "é bom desconfiar de ser desconfiado".

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posted by rafael at 23:24 | Permalink |


4 Comments:


At 16 agosto, 2006 07:52, Anonymous Anônimo

Nesse sentido, um das maiores virtudes talvez seja dar a cada coisa seu real valor.

Ps. Legal seu blog. Entrou na minha leitura diária.

Abraços!

 

At 22 agosto, 2006 10:24, Blogger Renata O.

"Toda expectativa não correspondida gera decepção. Toda confiança quebrada gera decepção. O esperto "desconfiado" poderia argumentar afirmando que isso comprova a tese dele de que nada seja digno de absoluta confiança, pois nada possuí tal qualidade. Contudo essa afirmação não passa de uma contradição, pois, se algo é digno de confiança, é porque ele não possuí essa qualidade."
Esse parágrafo está certo?
Bom, vc sabe a minha opinião sobre o autismo vigente..portanto não posso discordar, a confiança é uma disposição de nós mesmos, amparado por uma certa leitura favorável das coisas. Mas sério, não entendi esse seu parágrafo. Parece que quem se contradiz é você. Mas enfim, explique melhor, pleeeease.

 

At 22 agosto, 2006 14:22, Blogger rafael

Na verdade o que ocorreu com esse parágrafo é que se encontra fora de lugar. Ele deveria ser o quarto parágrafo, antes de eu mostrar porque a confiança e expectativa são sinônimos.
A contradição que encontro no argumento do desconfiado é que ele recusa confiar em algo que não possuí a qualidade da confiança, sendo que a confiança é algo dado e não apreendido da coisa.
Outro problema talvez esteja na palavra "digno", pois ela nos remete a idéia de merecimento, quando na verdade deveria ter usado a expressão "depositar confiança".
Obrigado pelas considerações

 

At 20 novembro, 2009 19:57, Anonymous Anônimo

Bonjour, poraodaalma.blogspot.com!
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