Antes de tudo, devo pedir perdão. Nas férias assumi o compromisso de manter contato. Porém a correria vida não permite que eu fique nem mesmo em casa. Mas é claro: isso não serve de desculpa, pois nas horas de intervalo sempre há momentos nos quais poderia contatá-los, contudo, por relaxamento deixo de fazê-lo. Agora sinto remorso devido a situação que me levou a entrar em contato. Falo remorso porque sei o que é estar precisando ouvir palavras de ânimo, saber que somos lembrados por alguém, ter ouvidos para ouvir nossos lamentos e ombros para encostar nossas faces. Sei o que é passar por lutas na solidão, sei dos inúmeros pensamentos e desejos nada bondosos que passam pela nossa mente e coração. Conheço principalmente aquele sentimento de aparente abandono por parte daqueles que dizem nos amar, e até mesmo - e este o mais estranho – o sentimento de abandono por parte de Deus. No entanto, nesses momentos de angústias, tristezas e abandonos, descobri muitas coisas, que por vezes me confortam, e por outras desanimam.
Há crises que somente nós devemos passar. Crises que somente nós podemos resolver, pois são etapas do lapidamento de nossa pessoa. Talvez essas crises sejam as mais difíceis de passar, pois por mais que desejamos, não existimos para lutarmos sozinhos. Mas nem mesmo nessas lutas individuais estamos a sós. Aprendi também a ver crises que passamos em união com outras pessoas. Quando somos compreendidos e recebemos o apoio que precisamos, muitas vezes não por meio de palavras, mas geralmente por um toque e um olhar. Entretanto, na maioria das vezes não somos compreendidos, e ao invés das pessoas chorarem conosco, preferem nos julgar e se afastar, retornando somente quando estamos chegando ao fim da crise ou da vida.
Sofremos porque desejamos ajudar as pessoas, levando amor e conforto quando precisam. E quando precisamos dessas mesmas coisas, não recebemos. Damos nossa vida, nosso tempo, nossos bens materiais, nossos ombros, abrimos mãos de planos, sonhos e desejos. Colocamos os problemas dos outros acima dos nossos e quando precisamos parece que não recebemos nada.
É interessante como nesses momentos lembramos da morte. Por isso vejo que a morte não é o fim, mas um processo. O processo da vida. Quando morremos para nós permitimos aos outros terem vida. Ao sofrermos pelos outros geramos vida a partir da nossa morte. Levamos esperança para aqueles que estavam sem esperança. É claro que há aqueles a quem ajudamos e não dão valor a isso. Mas quando morremos por alguém permitimos o amor que nos invadiu vá a outras pessoas. Daí o porque nos decepcionarmos tanto com todos: ninguém quer compartilhar o amor, a maioria tem medo de morrer.
É por isso que admiro vocês. Mesmo com problemas de saúde, mesmo decepcionados com pessoas, mesmo com gastos financeiros que redundam em prejuízos, ainda assim seguem na trilha do amor. Lembro-me de vocês com alegria. Alegria por saber que são pessoas inspiradoras. Dizem que não devemos olhar para as pessoas, mas discordo. Olho para vocês, percebo defeitos tantos quantos eu possuo, mas, acima de tudo admiro vocês naquilo que mais desejo: o prazer em servir e a disposição para amar.
Londrina, 06 de outubro de 2003
Marcadores: reflexões