30.7.06
uma meditação bíblica sobre perdão (II)
Jesus, contudo, em diversas passagens anuncia que a disposição de perdoar os outros deve partir do sujeito ofendido (MT. 6:12-14; 18:21s; Lc 11:4). Ocorre nessa perspectiva uma mudança fundamental na compreensão do ato de perdoar: deixa de ser algo a ser dado por merecimento e torna-se uma expressão de misericórdia. A misericórdia é justamente o contrário do merecimento: é dar sem merecer.

A misericórdia leva em conta os atos praticados e a condição do pecador. Contudo, esses elementos não estão em primeiro plano. O que move a misericórdia é anseio de ver o indivíduo que está afastado novamente presente na comunidade. Além disso, a misericórdia é uma atitude exercida por Deus, e serve como medida para a ação humana (Lc. 6:36).

Cabe acrescentar ainda a misericórdia como sendo o extremo oposta da ira. A ira é movida pela idéia de “justiça retributiva” e reclama pela condenação dos culpados. Por sua vez, a misericórdia se caracteriza pela disposição de empregar todos os meios, tempo e forças para salvar. Por isso, um elemento essencial da misericórdia é a aceitação do outro, o exercício do amor incondicional.

A atitude misericordiosa gera na pessoa alvo do perdão uma atitude de gratidão. Enquanto que na ótica meritória o indivíduo pode exigir o perdão após ter atendido todas as prescrições, aquele que é alvo de misericórdia nada pode a não ser aceitar ou rejeitar a oferta. Aceitando o perdão, assume que é menor frente aquele que o perdoou, o que marca assim a humilhação e prestação de honras.

E aquele que perdoou não se considera de maneira alguma superior ao seu ofensor, pois, ao aceitá-lo, abre mão do direito de “cobrar a dívida” e eleva o outro a condição de igualdade.

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29.7.06
uma meditação bíblica sobre perdão (I)
É inegável que vivemos hoje numa sociedade marcada pelo individualismo, sectarismo e hedonismo, mas com um discurso de igualdade para todos. Contudo, não é difícil percebermos que a igualdade não passa de discurso e o que manda na prática é a concorrência. Essa mentalidade acentua ainda mais o individualismo e o sectarismo, minando a cada dia os relacionamentos. Por isso, quando ocorre algum desentendimento, é mais fácil o afastamento do grupo ou a exclusão do indivíduo, do que a busca pela reconciliação.

Lucas 7:36-50 narra encontro de três personagens profundamente significativos para a época dos evangelhos: um religioso perfeito, uma mulher pecadora e um candidato a profeta mais visto como baderneiro. Contudo, desse encontro o que nasce é um profundo ensino sobre a prática e o valor do perdão. Algo que vai muito além do simples ato de retirar a culpa, alcançando dimensões de inclusão social. E para o mundo de hoje, nada melhor do que uma dose de aceitação mútua por parte dos seres humanos.

Na bíblia, o pecador é visto como um devedor, a quem Deus com seu perdão, perdoa a dívida. Toda a bíblia demonstra especialmente a generosidade do perdão divino, que utiliza de sua misericórdia para retirar a culpa a absolver o pecador. Em vários momentos Deus afirma esquecer e deixar para trás a lembrança do pecado, perdoando as faltas cometidas e não retribuindo culpa ao pecador. Todavia, o perdão somente é alcançado pelo ser humano sob a condição de que ele reconheça sua falta, e, tornando-se consciente, humilhe-se diante de Deus. O coração humilhado é a condição necessária para que Deus conceda perdão ao ser humano. Mas além de ser um ponto fundamental na história da salvação, o perdão é também um elemento indispensável para as relações humanas. E parece ser essa a ênfase do texto.

O texto trabalha duas concepções de perdão bastante distintas entre si. O farisaísmo pautado numa concepção meritória, faz do perdão dependente de obras para que seja alcançado. Por outro lado, Jesus apresenta a misericórdia como elemento essencial para a prática do perdão.

O perdão como merecimento traz junto de si o elemento da condenação, pois, condenar, num primeiro momento, é fazer com que o outro pague conforme seus atos. Assim, temos no fundamento desse tipo de julgamento a idéia de “justiça retributiva”, isto é, cada um deve ser tratado conforme merece a partir de seus atos.

Essa idéia inevitavelmente leva a exclusão, pois, todos devem andar conforme os padrões exigidos, e, aquele que não se adequar, deve ser isolado do meio de convívio. Para retornar ao meio é necessário que se cumpra uma série de prescrições, e, enquanto elas são cumpridas, ainda se permanece no isolamento. Assim, o perdão não depende da disposição daquele que vai perdoar, mas das obras daquele que busca o perdão.
continua...

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polissemia
"A vida só ganha sentido quando se pensa na morte, porque a morte é o único sentido da vida"

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sobre verdades e mentiras
"A verdade é uma mentira não confessada"

"Fala a verdade quem mente melhor"

"O que difere a verdade da mentira é o poder de convencimento"

"A mentira é uma verdade rodeada por incertezas"

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