30.1.07
e o verbo tem que se fazer carne
"Toda palavra somente tem significado quando ela ganha 'carne' em nosso corpo. Que adianta falar de carinho se não nos tocamos? E falar de saudade se não damos notícia? De simpatia se não sorrimos e empatia se não choramos juntos? Nosso corpo é sem sentido por ausência de palavras, nossas palavras sem sentido por ausência de um corpo, e tudo isso torna a vida sem sentido e os sentidos sem vida alguma."

trecho de um post antigo

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posted by rafael at 00:17 | Permalink | 2 teste tua chave
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28.1.07
te espero
Passo o tempo te esperando;
Mas engraçado,
Enquanto te espero,
O tempo não passa.

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posted by rafael at 23:40 | Permalink | 0 teste tua chave
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27.1.07
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede
Escrevi sobre a dificuldade de vivermos a vida por inteiro quando dividimos a vida em passado, presente e futuro, e concluí que viver plenamento todos os momentos da vida é um mistério indecifrável. Hoje, lendo Alberto Caeiro, deparei-me com uma resposta satisfatória para mim ao meu problema.

Vive
Vive, dizes, no presente,
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

Alberto Caeiro

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posted by rafael at 20:11 | Permalink | 0 teste tua chave
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21.1.07
interpenetração
Certa vez disse que todos os meus textos, depois de cada ponto final, retratam alguém que eu próprio desconheço. Por isso, depois de colocado o último ponto, não considero mais o textos pertencentes a mim. Desse momento em diante, eles ganham vida própria, assim como os jovens ao saírem da casa de seus pais.

Atesto isso a cada manifestação sobre os textos. Recebo os mais diversos elogios, críticas e interpretações. São essas últimas a real prova de que as palavras, depois de fixadas, tem uma magia própria, e encanta das mais diversas maneiras as pessoas que as lêem. E de modo algum sinto-me frustado pelas leituras não estarem em conformidade com a idéia que estava na minha cabeça no momento da produção do texto. Pelo contrário. Sinto-me atingindo por uma felicidade singular, parecida com aquela que nos sobreveem quando somos surpreendidos pelo olhar ou sorriso da pessoa que amamos.

E por cada texto carregar um pouco da minha pessoa, mas ao mesmo tempo ser totalmente independente de mim, e simultaneamente gerar sentimentos, resgatar lembranças, tocar em pontos diferentes de cada leitor, creio que não somos nós quem interpretamos o texto, e sim, é o texto quem nos interpenetra. Ele carrega um pouco de mim até você, e quando você me diz algo sobre ele, está colocando algo de você em mim, e nele também. Assim, por causa da vida própria que o texto ganha, ele é capaz de juntar a minha vida a sua, numa cadeia infinita de interpenetrações, colocando eu em você, você em mim, e nós dois dentro dele.

Gostaria de compartilhar com você, dois momentos de interpenetração que me tocaram muito.


Oi Rafa..mandei mail perguntando do teu ultimo post, muito bonito por sinal, pq fiz uma leitura dele e queria saber se é mesmo.
Dizem que traduzir uma poesia é entender o que o poeta quis dizer, e nunca o que ele disse..
Apesar de parecer mais evidentemente que fale sobre um amor romântico, entre homem e mulher (bom, isso depende da opção sexual do indivíduo, mas isso não vem ao caso..hehehe), na verdade esse teu texto me falou muito mais de um amor espiritual, entre os homens e Deus. Isso principalmente pela última estrofe, onde me parece sim, daí a comparação entre dois tipos de amor: o romântico e o espiritual.

'Amo-te como quem ama
que deseja
que espera
que se perde
e se reconhece apenas no ato de amar-te.'

Mas eu to viajando, eu sei. Seeeempre viajo muito. Mas gosto de viajar, em todos os sentidos.
É só isso, rapá. Eu tb viajava nos poemas de um amigo meu, ele achava que eu era meio louca. Via coisas que nem ele sabia que tinha escrito. Mas vou parar de te importunar.
bju
__________

rafa, amigo... hoje, mesmo cansada de uma semana cheia de trabalhos, pesquisas, imagens e tendo que esperar... parei para dar uma olhada no teu blog, li vários dos teus textos e me encantei com alguns deles, quando li "é a verdade mais pura, eu não consigo amar", fiquei pensando no tempo, nas pessoas que passaram pela minha vida nestes 24 anos e que com as várias mudanças que fiz, de alguma forma ficaram no passado, no natal liguei para algumas delas, foi incrível ouvir pessoas q eu não falava a algum tempo, q raramente me comunicava via e-mail, é mto engraçado, triste, confuso, queria que meus amigos estivessem por perto... saudades...


Lembro de uma palestra do Rubem Alves, na qual ele disse: "Os hermeneutas ficam se perguntando sobre o que o texto quis dizer, e por isso criam as mais absurdas interpretações, quando a resposta é simples: o texto quer dizer aquilo que está escrito." É uma pena que a maior parte das pessoas ficam na interpretação, quando de fato, o significado do texto e seu maior valor está contido no seu poder de interpenetração, pois é isso que nos faz transcender a cada linha, nos levando a encontrar a nós refletido nas palavras de outros.

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posted by rafael at 15:07 | Permalink | 2 teste tua chave
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19.1.07
mais do mesmo
Tirei um tempo para dar uma revisitada em alguns textos antigos, afim de reler a mim mesmo. E pensei ser um desperdício deixá-los guardados no passado (não que eles estejam velhos, mas a data na qual cada um foi publicado deixa essa impressão).

Notei que para mim revisitá-los já demandou grande soma de tempo e paciência, e, colocando-me na posição de visitante, percebi não ser correto da minha parte ficar chateado pelos textos ficarem "esquecidos".

Por isso, resolvi ativar minha conta no spaces, e lá irei republicar alguns textos semanalmente. De início, estão no ar "existem apenas provas de amor" e "um amor que vale a pena".

Assim, convido você que me acompanha a tanto tempo a revisitar um pouco de mim, e também a você que a pouco tempo está junto de nós, a conhecer os "rafaeis" revelados em muitas palavras.

Será um imenso prazer estar junto com você nessa re-interpretação de mim mesmo. O link segue abaixo:

http://rafaelfilos.spaces.live.com/
 
posted by rafael at 02:35 | Permalink | 1 teste tua chave
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16.1.07
amo-te
Amo-te como quem observa o mar
que não vê nada além da água
mas maravilha-se na imensidão do horizonte

Amo-te como uma metáfora
sintaticamente uma definição
semanticamente muitos significados

Amo-te como um sorriso
nascido num gesto, palavra, momento
aquecido pela lembrança, alimentado na esperança

Amo-te como quem ama
que deseja
que espera
que se perde
e se reconhece apenas no ato de amar-te.

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posted by rafael at 18:13 | Permalink | 4 teste tua chave
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sussurro


amo você!!!

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posted by rafael at 17:46 | Permalink | 1 teste tua chave
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15.1.07
Hesse e o poeta
Hermann Hesse, no conto "O poeta", conta a história do jovem Han Fook que ansiava ser um grande poeta. Não podendo ser diferente, tratando-se da dimensão dos escritos desse mito da literatura universal, Hesse apresenta de modo não menos poético o poder da poesia. Transcrevo aqui alguns trechos, dentre os muitos, que me fez amar ainda mais o modo do poeta ver a vida. Os grifos são todos meus.

"O coração do jovenzinho apertou-se ao contemplar como espectador solitário, conforme seu temperamento, toda âquela beleza. Deseja tanto ir para lá e estar ali no meio, gozar a festa junto de sua noiva e de seus amigos; entretanto, preferiu mais ainda assistir àquilo tudo como um espectador sensível e tornar a mostrá-lo numa poesia perfeita (...) Sentiu que em meio a tôdas as festas e alegrias desta Terra, nunca seu coração poderia ficar tranqüilo e sereno, que êle mesmo estaria sempre no meio da vida como um solitário e de certo modo como um espectador e um estranho, e sentiu que, entre tantas outras, apenas sua alma fôra feita de tal maneira que precisava sentir ao mesmo tempo a beleza da Terra e a secreta nostalgia do desconhecido. Com isso ficou triste, e ansiou por essas coisas, e terminou pensando que, para êle, uma verdadeira felicidade e uma profunda satisfação só poderiam existir, se algum dia lhe acontecesse refletir o mundo tão perfeitamente na poesia, que, nessa imagem, êle possuísse o próprio mundo, purificado e eternizado.

"Com isso, o aluno partiu de viagem e andou sem descanso, até que uma manhã, na alvorada, parou na margem do rio de sua terra, e olhou, sôbre a ponte enevoada, para sua cidade natal. Penetrou furtivamente no jardim de seu pai e ouviu pela janela do quarto a respiração do pai, que ainda dormia, e insinuou-se no pomar da casa da noiva, e viu, de cima de uma pereira, onde trepou, sua noiva em pé no quarto, penteando os cabelos. E enquanto comparava tudo isso, tal como o via naquele momento, ao retrato que compusera na sua saudade, tornou-se-lhe claro que seria mesmo um poeta, e viu que nos sonhos dos poetas mora uma beleza e um encanto, que debalde se procura nas coisas da realidade.

"E ficou e aprendeu tocar cítara e depois a flauta, e mais tarde, sob instrução do mestre, começou a fazer poesia, e aprendeu lentamente aquela arte secreta, que aparentemente só fala de coisas simples e desprentensiosas, mas com fim de revlover a alma dos que a escutam como o vento no espelho da água. Descreveu a chegada do sol, como êle hesita na orla da montanha, e o silencioso deslizar dos peixes, quando fogem como sombras sob a água, ou o balanço de um salgueiro nôvo no vento da primavera, e quando a gente ouve aquilo, já não era apenas o sol e jôgo dos peixes e o murmúrio do salgueiro, mas parecia que por um instante, o céu e o mundo de cada vez, combinavam-se numa música perfeita, e cada um ao escutar, pensava ao mesmo tempo, com alegria ou dor, naquilo que amava ou odiava: o garôto, na brincadeira; o jovem na amada; o velho na morte.

HESSE, Hermann. Contos. 6 ed. Trad. Angelina Peralva. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974. p. 26-33.

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posted by rafael at 18:50 | Permalink | 3 teste tua chave
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12.1.07
suruba
O televisor desliga. Passos até o banheiro e uma porta encostada com um pequeno faixo de luz na fresta deixada. Sons. Pia, sanitário. Sons. A luz se apaga. O lençol é remexido; a cama range. Olhos se entreabrem. Uma mão noutra barriga. Resistência. Insistência. Mão no seio. Resistência. Insistência. Coxa sobre outras coxas; membro ereto num corpo imóvel. Resistência, insistência, impaciência: desistência. A bermuda arriada, a camisola levantada. Nem beijos, nem carícias, sem afeto. Penetração. Gemido. Gemido. Ranger da cama. Gemido, ranger. Movimentos rápidos. Gemidos e rangeres, ora em compasso, ora em descompasso. Um último gemido. Dois corpos; cada qual de seu lado da cama.

Ele pensando na atriz da tv.

Ela, no homem com o qual casara-se a algum tempo e de quem sente falta a cada insistência.

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posted by rafael at 01:36 | Permalink | 0 teste tua chave
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10.1.07
um mistério indecifrável
O hoje não existe quando vivemos no ontem
O ontem não existe quando vivemos para o amanhã
O amanhã não existe quando vivemos tudo hoje.

Particionar a vida não é um bom negócio, pois
Ou esquecemos do passado - que é sempre um presente
Ou abandonamos o presente - que é sempre um passo para futuro
Ou não visionamos o futuro - que é sempre um contínuo do passado.

Ontem, hoje, amanhã
Presente, passado, futuro
Viver a vida por inteiro
Eis um mistério indecifrável.

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posted by rafael at 19:03 | Permalink | 0 teste tua chave
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4.1.07
férias
Estou de férias do mundo real
da correria
da ansiedade
da pré-ocupação
do pc
da internet

mas não estou de férias dos pensamentos
dos desejos
dos sentimentos

estou presente aqui
não em palavras
mas em idéias
e saudades

logo volto...

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posted by rafael at 17:53 | Permalink | 0 teste tua chave
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