Não sei o que é mais doloroso:
amar quem recusa nosso amor;
ou amar quem guarda nosso amor só pra si.
Ambos pra mim denotam egoísmo.
E ambos não entedem o que é ser amado.
Já postei anteriormente esse pensamento. E estive refletindo um pouco sobre ele na última semana.
Posso dizer que experimentei na prática essas palavras. Contudo, tive mais claridade quando li um texto de Thomas Merton - "Só amor dado é amor guardado" - no qual ele diz o seguinte:
O dom do amor é o dom de poder e da capacidade de amar, e, por conseguinte, dar o amor plenamente é também recebê-lo. Assim, só o amor que é repartido pode ser conservado, e ele só pode ser perfeitamente dado, quando é também recebido.
Basicamente, Merton defende a idéia que o amor deve ser sempre passado para frente, e não devemos guarda-lo para nós. Usando uma metáfora do Rubem Alves, o amor é como um pássaro selvagem: nasceu para viver livre e quando engaiolado, perde o sentido de ser selvagem, perde seu próprosito de ser, perde sua vida.
A grande questão está sobre atitude egoísta. Ao meu ver, tanto quem recusa o amor como aquele que o guarda somente para si expressa tal atitude. Para falar sobre àqueles que guardam o amor somente para si, sirvo-me novamente das palavras de Merton:
O amor egoísta raramente respeita o direito do amado a ser uma pessoa autônoma. Longe de respeitar o verdadeiro ser do outro, e permitir à sua personalidade, que cresça e se expanda conforme a sua original expressão, esse amor procura guardá-lo em sujeição. Insiste em que ele se conforme a nós, e ainda se esforce de todos os modos para o conseguir. Um amor interesseiro definha e morre se não é alimentado pela atenção do amado. Quando amamos assim, os nossos amigos só existem para que os possamos amar. Amando-os, o que procuramos é domesticá-los e guardá-los como coisas nossas. A esse amor, o que mais amendronta é a emancipação do amado. Ele exige-lhe a sujeição, indispensável a sua existência.
Por sua vez, aquele que recusa ser amado é egoísta por negar a partilhar de si com outro. Porque quando nos permitimos ser amados, estamos nos abrindo para a entrada de alguém em lugares nos quais jamais gostariamos de ser conhecidos. Permitimos ao outro partilhar de nossos desejos, alegrias, sofrimentos. Partilhamos tudo aquilo que está englobado no verbo viver.
Um nexo fundamental entre as duas atitudes egoístas me parece ser o medo. Para quem deseja o amor só para si, o medo se refere ao fato de perder o amor para os outros. Para quem não quer ser amado, o medo está em se perder no amor do outro.
E qual seria uma possível solução a esse dilema?
Bem, me parece que Thomas Merton oferece uma resposta satisfatória. "O amor não busca uma alegria que seja consequência do seu efeito: a sua alegria está no próprio efeito, que é o bem do amado. Por conseguinte, se o meu amor é puro (leia-se não egoísta), eu não tenho sequer de procurar para mim mesmo a satisfação de amar. O amor só busca uma coisa: o bem do amado. Ele deixa aos outros efeitos secundários o cuidado de si mesmos. O amor, portanto, é a sua própria paga (...) Temos de purificar o nosso amor, renuciando ao prazer de amar como um fim em si. Enquanto nosso fim for prazer, seremos desonestos para conosco e para aqueles que amamos. Procuramos não o seu bem mas o nosso prazer."
E quanto ao medo de sermos domesticados pelo amor do outro, nada melhor do que uma dose de discernimento: "O amor egoísta toma, muitas vezes, um ar desinterassado: é quando está querendo fazer ao amado alguma concessão com o fim de guardá-lo prisioneiro. Mas este é o supremo egoísmo, comprar o que é melhor duma pessoa, a sua liberdade, a sua integridade, a dignidade de pessoa autônoma ao preço de bens muito inferiores".
Amar e ser amado, para mim, é sentir-me livre no amor do outro e deixar o outro livre no meu amor.
É não encontrar a mim no outro, e não ser a imagem do outro em mim.
É sim buscar o bem dos outros e sentir-me bem quando o outros encontram o bem almejado.
É sentir-me um pássaro selvagem, sendo livre e libertando a quem amo de suas gaiolas.
(Thomas Merton, Homem algum é uma ilha, Editora Agir, 1961).
amar quem recusa nosso amor;
ou amar quem guarda nosso amor só pra si.
Ambos pra mim denotam egoísmo.
E ambos não entedem o que é ser amado.
Já postei anteriormente esse pensamento. E estive refletindo um pouco sobre ele na última semana.
Posso dizer que experimentei na prática essas palavras. Contudo, tive mais claridade quando li um texto de Thomas Merton - "Só amor dado é amor guardado" - no qual ele diz o seguinte:
O dom do amor é o dom de poder e da capacidade de amar, e, por conseguinte, dar o amor plenamente é também recebê-lo. Assim, só o amor que é repartido pode ser conservado, e ele só pode ser perfeitamente dado, quando é também recebido.
Basicamente, Merton defende a idéia que o amor deve ser sempre passado para frente, e não devemos guarda-lo para nós. Usando uma metáfora do Rubem Alves, o amor é como um pássaro selvagem: nasceu para viver livre e quando engaiolado, perde o sentido de ser selvagem, perde seu próprosito de ser, perde sua vida.
A grande questão está sobre atitude egoísta. Ao meu ver, tanto quem recusa o amor como aquele que o guarda somente para si expressa tal atitude. Para falar sobre àqueles que guardam o amor somente para si, sirvo-me novamente das palavras de Merton:
O amor egoísta raramente respeita o direito do amado a ser uma pessoa autônoma. Longe de respeitar o verdadeiro ser do outro, e permitir à sua personalidade, que cresça e se expanda conforme a sua original expressão, esse amor procura guardá-lo em sujeição. Insiste em que ele se conforme a nós, e ainda se esforce de todos os modos para o conseguir. Um amor interesseiro definha e morre se não é alimentado pela atenção do amado. Quando amamos assim, os nossos amigos só existem para que os possamos amar. Amando-os, o que procuramos é domesticá-los e guardá-los como coisas nossas. A esse amor, o que mais amendronta é a emancipação do amado. Ele exige-lhe a sujeição, indispensável a sua existência.
Por sua vez, aquele que recusa ser amado é egoísta por negar a partilhar de si com outro. Porque quando nos permitimos ser amados, estamos nos abrindo para a entrada de alguém em lugares nos quais jamais gostariamos de ser conhecidos. Permitimos ao outro partilhar de nossos desejos, alegrias, sofrimentos. Partilhamos tudo aquilo que está englobado no verbo viver.
Um nexo fundamental entre as duas atitudes egoístas me parece ser o medo. Para quem deseja o amor só para si, o medo se refere ao fato de perder o amor para os outros. Para quem não quer ser amado, o medo está em se perder no amor do outro.
E qual seria uma possível solução a esse dilema?
Bem, me parece que Thomas Merton oferece uma resposta satisfatória. "O amor não busca uma alegria que seja consequência do seu efeito: a sua alegria está no próprio efeito, que é o bem do amado. Por conseguinte, se o meu amor é puro (leia-se não egoísta), eu não tenho sequer de procurar para mim mesmo a satisfação de amar. O amor só busca uma coisa: o bem do amado. Ele deixa aos outros efeitos secundários o cuidado de si mesmos. O amor, portanto, é a sua própria paga (...) Temos de purificar o nosso amor, renuciando ao prazer de amar como um fim em si. Enquanto nosso fim for prazer, seremos desonestos para conosco e para aqueles que amamos. Procuramos não o seu bem mas o nosso prazer."
E quanto ao medo de sermos domesticados pelo amor do outro, nada melhor do que uma dose de discernimento: "O amor egoísta toma, muitas vezes, um ar desinterassado: é quando está querendo fazer ao amado alguma concessão com o fim de guardá-lo prisioneiro. Mas este é o supremo egoísmo, comprar o que é melhor duma pessoa, a sua liberdade, a sua integridade, a dignidade de pessoa autônoma ao preço de bens muito inferiores".
Amar e ser amado, para mim, é sentir-me livre no amor do outro e deixar o outro livre no meu amor.
É não encontrar a mim no outro, e não ser a imagem do outro em mim.
É sim buscar o bem dos outros e sentir-me bem quando o outros encontram o bem almejado.
É sentir-me um pássaro selvagem, sendo livre e libertando a quem amo de suas gaiolas.
(Thomas Merton, Homem algum é uma ilha, Editora Agir, 1961).
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