18.2.07
destino
DESTINO. Eis uma palavra, dentre tantas, que eu odeio. Ela sempre soa com ar de derrota para mim. É. Porque nunca vi alguém que se deu bem dizer "o destino assim o quis". Sempre os perdedores, os derrotados, os frustados, invocam a influência do destino sobre suas vidas.

Se bem que nos últimos dias eu tenho advogado o destino também.......

Mas quero partilhar aqui um trecho da obra "O livro do riso e do esquecimento" de Milan Kundera, no qual ele discorre brevemente sobre o destino.

"(...) Depois da chegada dos russos, quando recusou-se a negar suas convicções, foi demitido de seu trabalho e cercado por policiais vestidos à paisana. Isso não o abateu. Estava apaixonado pelo seu próprio destino e sua caminhada para a ruína parecia-lhe nobre e bela.
Compreendam-me bem: eu não disse que ele estava apaixonado por si mesmo, mas por seu destino. São duas coisas totalmente diferentes. Como se sua vida se emancipasse e tivesse de repente seus próprios interesses, que não correspondiam de maneira alguma aos de Mirek. É assim que, na minha opinião, a vida se transforma em destino. O destino não tem intenção de levantar nem ao menos o dedo mindinho por Mirek (por sua felicidade, sua segurança, seu bom humor, sua saúde), enquanto que Mirek está pronto a fazer tudo por seu destino (por sua grandeza, sua beleza, seu estilo e seu sentido). Ele se sente responsável por seu destino, mas seu destino não se sente responsável por ele".

É por isso que a crença no destino é um excelente ópio para amenizar as frustrações nascidas das nossas derrotas e impossibilidades nas tentativas de realizar nossos sonhos. E os sonhos não nascem da contemplação do nosso destino, mas sim do amor que temos por si mesmo.

Feliz daquele que alcança a benevolência do destino e consegue conciliá-lo com o seu amor próprio.

Diferentemente de Mirek, na loteria do destino eu saí perdendo.

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