"A vida só ganha sentido quando se pensa na morte, porque a morte é o único sentido da vida"
Talvez eu tenha sido muito restritivo ao dizer "só ganha", pois tantas pessoas - e principalmente os jovens - encontram vários sentidos para a vida sem levar em conta a morte. E para muitos - senão para a maioria - constatar a morte como um fim inevitável, causa mais danos do que motivação para viver. A morte torna a vida um absurdo....
Eis a grande questão que permeia a vida: como lidar com o absurdo?
Penso que a resposta mais oferecida a essa pergunta é a negação da resposta. De fato, poucas pessoas, ao dar-se conta da questão, aproveitam o tempo refletindo sobre ela. E não creio essa ser uma atitude de todo errada, pois, enfrentar o absurdo é uma tarefa árdua e exige muito vigor e estrutura de quem se propõe a enfrentá-la.
O problema de chamar o absurdo para um conversa franca está no fato do diálogo ser um monólogo. Quando nos dirigimos ao absurdo, o máximo que ouvimos é o eco das nossas indagações. Esse eco soa como se o absurdo estivesse jogando contra nós todas as nossas questões sobre e acusações contra ele.
E quem consegue enfrentar as próprias perguntas?
Quem é capaz de suportar a nudez pela qual é submetido quando se é questionado?
De todos os que enfretaram o absurdo, admiro o escritor de Eclesiastes. Engana-se quem pensa ser o existencialismo no século XX o pregador do absurdo da existência. Muitos séculos antes de Cristo o escritor de Eclesiastes constatara a vida como pura vaidade, e tudo o que se faz nela é como correr atrás do vento. E o mais interessante no livro bíblico é o próprio deus tornar a vida um absurdo, na visão do escritor. Ainda que no final do livro ele afirme como o essencial para a vida o temor a deus e a obediência aos seus mandamentos, no decorrer da sua reflexão deixa escapar que até isso, dito como essencial, é absurdo...
(talvez deus seja o maior dos absurdos)
Tenho o livro bíblico em mãos e passo os olhos sobre uma possível resposta de como enfrentar o absurdo encontrado ao se constatar a morte como inevitável:
Pois os vivos sabem que morrerão,
mas os mortos nada sabem;
para eles não haverá mais recompensa.
Para eles, o amor, o ódio e a inveja
há muito desapareceram;
nunca mais terão parte em nada
do que acontece debaixo do sol.
(Eclesiastes 9.5-6)
Participar da vida, mesmo ela apresentando-se absurda. Quem sabe não seja essa a resposta trazida pelo eco das nossas perguntas...