É por esse motivo que me esquivo de falar de música. Não tenho muito claro porque gosto de determinados gêneros e por isso privo-me das discussões. Outro fator é porque somente agora estou conhecendo música. Pode parecer estranho, mas minha adolescência e grande parte da juventude não teve trilha sonora. Foi como um cinema mudo. Somente à pouco mais de dois anos ela tornou-se um elemento constante em minha vida, e, aos poucos, vem consolidando-se como essencial.
Por isso, constantemente tenho revisto certos gostos. Aquilo que anteriormente pensava não gostar, agora consta na lista dos preferidos. Como exemplo cito Pink Floyd por quem nutria um pré-conceito digno de palpiteiro, e que, após buscar compreender a proposta do chamado rock progressivo, ouço quase diariamente. E não apenas essa monumental banda, como também tornei-me um consumista do gênero apreciando o épico Genesis e o futurista Rick Wakman, o clássico Jethro Tull, a nova geração muito bem representada por Dream Theater, e também bandas com influência do estilo como Klaatu e o brasileiríssimo O Terço. E esse movimento tem ocorrido com os mais diversos gêneros.
Atualmente dedico-me mais a ouvir a música dos anos 60 e 70, as melhores décadas musicais para mim. Meu gênero preferido é o "rock sem adjetivos" como disse certa vez meu amigo Tiago Brene (apesar dele não lembrar), ao se referir ao rock clássico. Aquele que segundo o Brene é caracterizado por "guitarra plugada direito no amplificador, batera 4x4 e um baixista que respeite a música. Assim tudo que tiver de criativo vai ser atribuído diretamente aos músicos, pois criam dentro disso riffs, solos clássicos que com uma nota já podemos saber de qual música se trata, frases de guitarra que alternem entre técnica e melodia agradável desde que não seja vídeo aula e que demonstre a velocidade do guitarrista." (gostei dessa explanação!). Nos últimos tempos ouço muito Creedence Clearwater Revival, Foghat e Boston; todos, no meu pouco entender, excelentes representantes do gênero.
Mas também ouço muito Beatles, principalmente os álbuns Sargent Peppers Lonely Hearts Club Band e The Beatles (o famoso álbum branco), como também The Doors e Led Zeppelin
Apesar de muito a conhecer ainda dos anos 70, pretendo entrar agora nos anos 80. Mas não tenho sido muito rigoroso nesses meus estudos. Atualmente acompanho mais a dicas de amigos e amigas, principalmente da Thiane, da Van e da Vanessa, visto que elas citam muitos grupos desconhecidos para mim.
Fiz todo esse panôrama para responder ao desafio proposto a mim pela Graciela: "falar o que ouço quando escrevo para o blog".
Bem, eu não ouço nada quando escrevo! Eu não consigo escutar e escrever concomitantemente. Se ouço música, não ouço meus pensamentos, e vice-versa. Reconheço meu limite em não conseguir fazer duas coisas ao mesmo tempo: ou falo, ou ouço, ou leio, ou escrevo, ou penso. Quem se irrita bastante com isso é minha irmã...
Mas não recusarei o convite da Graci, e para tanto, mudarei um pouco o desafio citando aquilo que ao ouvir me motiva a escrever no blog.
Disparado no primeiro lugar, Titãs é quem mais traz temas para eu refletir. Muitos textos aqui escritos tem como fundamento alguma música deles, e claramente cito-os aqui, aqui e aqui. Gosto de suas letras, pois me parece que eles conseguem inverter a realidade, parodiar o cotidiano e tornar o óbvio nada óbvio, apesar de enfatizarem o óbvio!
Apesar de muitos não gostarem, geralmente por causa de preconceitos com relação ao Humberto, sou fã de Engenheiros do Hawai. As composições geralmente evocam em mim indagações sobre a vida, e gosto por demais das homenagens as suas raízes gaúchas, mesmo eu sendo catarinense.
A Pitty é alguém por quem tenho grande apreço musical. Ao meu ver ela tem uma rara perspicácia para detectar temas cruciais de nossa sociedade, indo muito além da crítica ao sistema político como muitos rockeiros se limitam, trazendo à tona aspectos de nossa mentalidade contemporânea corrosiva, como a psêudo-liberdade e psêudo-individualidade (veja bem, corrosivo é o psêudo, e não a própria liberdade e individualidade).
Terminando, três artistas gospel que ouço muito. João Alexandre, que reúne poesia, devoção, espiritualidade e crítica, além de fazer uma autêntica música brasileira, pois, a música gospel no Brasil, como diriam os Titãs, é feita de "disco brasileiro de música americana". A banda Resgate, de rock simples mas suficiente para ser bom, com letras fazendo o que a igreja não consegue fazer: atualizar a mensagem bíblica aos dias atuais. Por fim, cito Fruto Sagrado. Tá certo que o último cd está "meia boca", mas eles mostram que o cristianismo deixa de ser ópio quando é usado como meio de crítica reflexiva sobre si e sobre a sociedade (como faziam os profetas antigos).
Bem Graci, essa seria a influência que a música traz sobre mim ao escrever no blog. Não escuto nada enquanto escrevo. Mas antes de escrever eu ouço muito. E claro, depois de terminar sempre rola um som básico. E como estou encerrando, vou gritar para minha irmã colocar na vitrola o álbum branco dos Beatles, enquanto visito a Thiane, a Van e a Vanessa para desbravar esse mundo ainda desconhecido para mim.
E o desafio fica aberto para quem quiser participar.