Primeiro porque penso que o contrário da fé é o medo. E duvidar não é ter medo; é ter coragem para esperar a resposta segura. E somente espera quem tem fé de que a resposta virá. Segundo, penso a dúvida como negativa quando ela é gerada pela desconfiança. E quem desconfia sempre tem a certeza de que em algum momento terá uma resposta negativa, e por isso jamais irá confiar.
Por isso não discordo de quem precisa ver para crer. Isso é tão verdadeiro que defendi o pobre Tomé, condenado por precisar dos olhos para crer.
Ao meu ver, em geral pensa-se o crer como acreditar em tudo. Mas pense comigo: acreditar é confiar, é dar um crédito; e desconfiar é tirar o crédito depositado, ou nem mesmo dá-lo. Eu não vejo isso como sinônimo de duvidar, pois aqui aguarda-se uma resposta, enquanto que na desconfiança não se espera: a resposta está dada.
Assim, mesmo no acreditar existe o duvidar, pois é dado um crédito e fica-se na espera da resposta, isto é, na dúvida. E no desconfiar, a sentença já é dada de antemão: não ser digno de confiança.
Disso tudo, decorre que o confiar e o acreditar não é acabado, mas uma construção erigida no relacionamento, a partir das respostas recebidas da confiança depositada. Por isso penso que duvidar não é desconfiar, e confiar não é ser cego. Aliás, o sentido de cego aqui pode ser entendido como ignorância...
Daí eu discordar da idéia de "confiar é nunca duvidar". Porque confiar não é sinônimo de fé cega. Aliás, a fé também tem a sua parcela de dúvida....
Reflexão no embalo do meu texto anterior, nos comentários da AP no mesmo, e no texto "mal entendido" do Wolverine. Isso é uma prova de como carrego um pouco de você nos meus textos.
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