Essa é uma das passagens bíblicas marcantes para mim. É o momento do reencontro de Jesus com seus doze mais chegados discípulos depois da sua ressurreição. Especificamente nesse momento, dá-se o encontro de Jesus com Tomé.
A ênfase da passagem está na incredulidade de Tomé. Alguns versículos acima, o duvidoso discípulo diz a seus companheiros somente acreditar na ressureição do seu mestre se ver e colocar o dedo na cicatriz dos cravos nas mãos, e a mão na cicatriz da lança presente ao lado do homem a quem diziam ser Jesus ressurreto.
Graças a esse evento, Tomé ficou conhecido na tradição como o discípulo incrédulo, e seu nome passou a ser um chavão para caracterizar as pessoas que assumem a dúvida antes de afirmar algo. E o pobre do Tomé, por ter assumido toda a sua humanidade, é rechado pelo cristianismo populacho e perfeccionista.
Ele não foi o único a demonstrar dúvida frente a um milagre divino. Moisés (Nm 11.21-23) e Gideão (Jz 6. 36-40) são dois exemplos de personagens bíblicos com grande importância e que também duvidaram de deus. E não condeno nenhum deles; ao contrário, admiro-os. Pois nada mais humano do que duvidar. Nada mais corajoso do que suspender o juízo e aguardar uma resposta segura. Nada mais próximo da fé do que o agnostiscismo.
O que acho belo nessa passagem bíblica é a atitude de Jesus frente a dúvida de Tomé. Aparentemente parece ser uma atitude óbvia, pois ele responde a dúvida do seu discípulo. Mas a aparente obviedade se desfaz quando penso nas minhas atitudes com relação a dúvida. Como eu reajo frente a pessoas com dúvidas? Como reajo em relação as minhas próprias dúvidas? E constato assumir uma postura oposta a de Jesus.
Talvez eu seja o único a agir assim, mas quando me deparo com a dúvida, seja com a minha ou de terceiros, tendo a reprimir, a tentar esquecê-la. Faço de tudo para eliminá-la, pois ela traz consigo a insegurança. E ao meu ver, o fundamento da insegurança é a incerteza, e essa é gerada pela dúvida, que por sua vez é alimentada pela ausência de respostas.
E nesse ponto encontra-se a fé de Tomé e a bela atitude de Jesus. O primeiro teve fé suficiente para suportar o momento de insegurança gerado pela dúvida. O segundo revelou todo o seu amor ao assumir a dúvida do outro para assim oferecer uma resposta capaz de mudar o curso de uma história.
Lembrei dessa passagem graças a uma belíssima atitude de amor da qual fui alvo. Muitas vezes pensei em cancelar esse blog, como já registrei aqui. Fui alvo da insegurança gerada pela dúvida: não tinha certeza se minhas palavras encontravam guarida em algum corpo além do meu. Mas nos últimos dias tenho recebido várias respostas, e hoje a Graciela agraciou-me com o selo "Tapete Vermelho", criado por ela e alguns amigos(as) e 'dedicado aos seus blogs favoritos, afim de homenagear quem dedica um tempo escrevendo o que pensa, sente e que se sujeita a elogios ou críticas'.
E estendo a minha gratidão a todos vocês, amigos e amigas, antigos e recentes, comentadores ou apenas leitores. Cada visita de vocês nesse cantinho da web é para mim como o gesto de Jesus mostrando suas cicatrizes a Tomé. O seus olhares pousados sobre as minhas palavras me dão segurança para continuar a escrever. Suas palavras animam minha fé nas horas de dúvida. E assim sinto-me amado por vocês, como Tomé certamente sentiu-se por Jesus.
E por tudo isso, a homenagem da Graci é para todos nós!
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