Manual do Messias-Richard Bach
Não sei em qual contexto essa frase está inserida, mas tendo-a assim sozinha, e por isso completa em si mesma, expresso a minha discordância quanto a sua idéia.
Entendo que ela esteja se referindo ao desencanto causado pelo conhecimento. Uma idéia muito difundida por sinal, essa de que o saber ao desvendar o segredado retira das coisas aquilo que tem de mais atraente: o mistério.
A mágica é um excelente exemplo e o autor foi muito feliz ao utilizá-la para transmitir sua idéia. Admiramos o mágico pelo fato dele esconder tão bem o "como" ele faz seus truques. Ficamos admirados com o mistério, com o segredo envolto em sua pessoa. Ficamos admirados por "não saber". E quanto mais não sabemos, mais expectativas criamos sobre "como é" que as coisas são.
Quanto menor o conhecimento, maior o mistério.
Quanto maior o mistério, maior a expectativa.
Quando descobrimos o segredo do truque, mormente pensamos: "não acredito, é simples assim!". E toda a expectativa criada, reduz-se a um sentimento de idiotice por não termos percebido a simplicidade do "como é" que as coisas são. A idiotice se refere ao fato não termos "aprendido" e "sabido" antes algo tão claro, e por isso nos sentimos também enganados.
Cada um tem sua história de decepção gerada por alguma expectativa frustrada, e todos poderiam contá-la e usá-la como argumento para mostrar como o conhecimento desencanta o mistério, pois o mesmo ocorre em nossos relacionamentos.
Quando desvela-se quem a pessoa realmente é, e quando ela mostra-se contrária aquilo a quem esperavamos que fosse, somos também atingidos pelo sentimento de idiotice por não termos percebido e aprendido "como é" que as coisas são, e enganados por não termos "sabido" de algo tão claro.
Quanto maior a expectativa, maior a decepção.
(E por isso, muitos preferem não saber, a sofrer uma decepção)
Mas penso que a culpa não é do conhecimento, mas da expectativa gerada pela falta dele. Porém, se a expectativa é gerada pelo mistério, e o mistério apoia-se na falta de conhecimento, então eu estaria propondo acabar com o mistério. E acabando com o mistério, eu estaria acabando com o encanto!
Pois bem, não desejo acabar com o encanto, pois o que seria da vida sem ele? Mas gostaria de propor a compatibilidade entre conhecimento e mistério. Gostaria de mudar a idéia "Quanto menor o conhecimento, maior o mistério" para "quanto maior o conhecimento, maior o mistério".
É possível? Eu penso que sim se entendermos esse mistério como "aquilo que não se deixa adivinhar nem calcular antecipadamente, mas como aquilo que precisa ser revelado, descoberto e conquistado". E aqui percebo o mal que se encontra na expectativa: ela tenta adivinhar ou calcular antecipadamente o conteúdo do mistério. E quando o mistério se apresenta diferente do adivinhado ou calculado, o resultado é a decepção e o desencanto.
Por sua vez o conhecimento não se antecipa, não adivinha, não calcula. Ele vai de encontro, e na vivência vai desvelando, despindo e percebendo que em cada detalhe conhecido, existem muitos outros, infinitos, infindáveis, para serem revelados. E são nesses detalhes, cada vez mais desconhecidos conforme são conhecidos, é que se revela o encanto do mistério.
A expectativa gera ilusão
A decepção, é a desilusão
E mistério não é ilusão:
é desconhecimento
E desconhecimento, é um convite para se conhecer
Por isso, não acredito que o não-saber nos proteja da decepção. Ao contrário, a decepção é forjada na falta de conhecimento, pois apoia-se no cálculo, na ilusão, na adivinhação: na expectativa. Enquanto o mistério:
"é aquilo que precisa ser revelado, descoberto e conquistado do outro".
A citação foi retirada do blog da Fabi.
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