17.8.07
ordem e progresso (e amor por princípio)
A Veridiana mobilizou uma blogagem coletiva sobre o tema:


De fato, vivemos um período de grande desordem nacional e aparente regresso em nossas estruras sociais (política, econômica, moral, religiosa....). Mas eu me pergunto se algum dia, na história de nosso jovem país, tivemos a marca da ordem e do progresso.

Sim, somos um jovem país. Nascemos oficialmente em 22 de Abril de 1500, e saimos da casa paterna em 21 de Novembro de 1889. É sabido de todos que nascemos com o propósito de sermos uma colônia de exploração e enriquecimento das metrópoles imperiais. Digo no plural porque não enriquecemos apenas Portugal, mas também a Holanda, a França, a Inglaterra e a Igreja Católica Romana.

Hoje mudamos o uniforme para a República, deixando de ser colônia para sermos uma República de exploração: além de sustentarmos os países com quem temos dívidas herdadas de nossos pais e de governos incentivadores do progresso por meio dos investimentos em infra-estrutura, também o fazemos com o capital estrangeiro, o capital interno e os interesses privados.


E falando em interesses privados, temos que parar com essa bobagem de acreditar que somos uma República e ser honestos conosco, reconhecendo que vivemos numa oligarquia: governo de um grupo economicamente poderoso que procura favorecer quem se encontra no poder em detrimento dos demais.

(eis aí nossa mentalidade de colônia)

A propósito, a nossa bandeira nacional é inspirada na bandeira do império colonial, tendo sido feita apenas a substituição do desenho da coroa imperial para a esfera azul celeste com a divisa positivista "ordem e progresso". E recordando, essa expressão é parte da fórmula máxima do positivismo: "O amor por princípio, ordem por base, o progresso por fim".

A filosofia por trás desse fórmula é interessante. Segundo Comte, a moral é a última ciência e rege todas as demais. A "essência" da moral seria o amor, isto é, a caridade, o altruísmo. A ordem seria todas as coisas em seu devido lugar conforme a orientação da moral. O progresso seria consequência dos elementos anteriores. Os positivistas entendem que existe uma lei regendo o progresso das sociedades, sendo o progresso entendido como a ascensão do homem do seu estado de selvageria para o estado de homem livre. E "homem" para os positivistas, refere-se tanto ao indivíduo quanto a sociedade como um todo.

Esta concepção já está superada. Mas ainda, nós, brasileiros, nunca a aprendemos. Pois, como brasileiros, nunca nos interessamos pelo Brasil, e deixamos esse jovem lançado a mercê daqueles que se apropriaram dele para alcançar seus interesses nada caridosos.

Confesso meu pessimismo. Acredito que grande parte desses movimentos contra o governo não são nada altruístas, assim como toda a história do nosso jovem país nunca foi marcada pelo princípio da ordem e do progresso (na verdade, o princípio virou slogam). Para mim, a maior parte dos movimentos choram por seus interesses particulares, e não duvido nada que eles se transformarão em partidos políticos dentro de alguns anos.

E no fim, continuamos sendo uma oligarquia travestida de república e que adora discursar sobre democracia.

Ordem e progresso? Somente se tivermos o amor por princípio.

Leia também o texto da Thiane "falta orgulho de ser Brasil"

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posted by rafael at 15:20 | Permalink |


13 Comments:


At 17 agosto, 2007 16:40, Anonymous Anônimo

Ja tinha te dito uma vez q eu era mais politizada do que espiritualizada né? Pois então, melhor eu nem comentar seu post, gatchinho! Ou ficaríamos num bate-bola infinito como aquele do acidente da TAM!

Eu, quando desando a discutir política, tem q amordaçar e amarrar! ADORO! E ninguem quer discutir política com socióloga Centro-Esquerdista! Conheço pessoas que preferem tortura medieval!

Mas olha... Bom post!

 

At 17 agosto, 2007 17:41, Blogger Fábio Mayer

Conta a lenda que houve protestos contra as primeiras bandeiras do Brasil republicano, inspiradas na bandeira dos EUA, como, aliás, todo o resto de nossa organização republicana.

E como houve protestos, resoveu-se adotar a bandeira da império e adaptá-la, pois a reclamação era da beleza extrema da bandeira anterior, contra a feitura extrema das bandeiras da repúblicva.

Mas entrando no assunto da blogagem, a minha opinião é que é preciso uma mexida geral no povo brasileiro, em suma: acabar com o jeitinho e se engajar politicamente. Sò assim teremos ordem e, depois, progresso verdadeiro.

 

At 17 agosto, 2007 20:50, Anonymous Anônimo

De fato, não dá para ser muito otimista. Acho que a importância da coletiva é a de propagar a informação e fazer os leitores tomarem ciência da importância que cabe a cada um de nós com relação ao futuro deste país. Bom findi. Abs.

 

At 17 agosto, 2007 22:38, Blogger Ricardo Rayol

Um dia vou aprender a escrever que nem vocês. parabéns pelo post

 

At 18 agosto, 2007 00:40, Blogger rafael

Lady
Acredito que você tenha visto a questão do "amor" como um elemento espiritualizado no texto. Mas eu não usei o "amor" nesse sentido, mas como sinônimo de moral; a mesma relação feita por Comte quando cunhou a máxima exposta no texto.

Por isso, o final poderia ser assim escrito:
Ordem e progresso? Somente se tivermos a moral por princípio.
(mas eu disse isso apenas seguindo o raciocínio do texto, porque eu não reduziria a questão política a moral).

Eu não tenho problema nenhum em discutir política, sendo em nível conceitual claro. Porque discutir a prática política eu acho inútil.
E se a discussão for com você, melhor ainda...
bjus
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Fabio
Adorei a questão da lenda. Minhas lembranças das aulas de história não recuperou esse dado!

E concordo com sua opinião. Esse foi o viés que procurei seguir no texto. Política se faz na ação e não na reclamação!
abraços
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Mário
Concordo com você. E acrescento: mais do que fazer os leitores tomarem ciência, precisamos motivá-los a agir. Só blablabla não adianta, não é mesmo?
Abraços
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Ricardo
Obrigado pelo elogio. Mas quem tem que aprender muito ainda sou eu. E certamente você é um modelo para mim.
Abraços.

 

At 18 agosto, 2007 02:26, Anonymous Anônimo

1 - A "Inércia" em questão de política, ao que li, é oposta a minha Kátia... direita mais a direita.

2 - Quanto a seu texto, só desejo, opinar sobre a frase: "Confesso meu pessimismo."

Permita dizer-te: Eu sou pessimista e essa sua posição retrata não pessimismo, mas a atual e real situação do país, talvez até do mundo.

Agradecmentos:
1 - Obrigado pela correção ao link.
2 - Obrigado por ser bondoso comigo.

 

At 18 agosto, 2007 12:03, Blogger Unknown

Rafael, o pessoal já disse tudo mas se existe uma coisa que devemos ter ciência é que a nau está a deriva. Um ótimo final de semana a você.

 

At 18 agosto, 2007 12:23, Blogger rafael

Adão
Realmente vivemos num pessimismo mundial. Contudo, ele não deve transformar-se em fatalismo. Pois o pessimismo ainda contém um pouco de motivação para a ação; e o fatalismo é a conformação com a realidade....
abraços
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Ronald
Espero que o pessoal, agora que disse tudo, não pare por aí. Se a nau está a deriva, não será os gritos de desespero que fará com que o leme tome algum rumo....
abraços

 

At 19 agosto, 2007 14:51, Anonymous Anônimo

Rafael, primeiro gostaria de agradecer por ter participado da Blogagem, excelente texto, eu de verdade acredito que através da internet temos condições de começar a incomodar, a mostrar, a educar, a trocar informações, opiniões e como disse o Ronald, a nau está a deriva, de repente os gritos de desespero não façam com que o leme tome algum rumo, mas já é um começo, melhor do que ficarmos todos calados esperando bater e se arrebentar e finalmente afundar... bjs

 

At 19 agosto, 2007 19:05, Blogger Luma Rosa

A que ponto chegamos? Antigamente a palavra valia muito e se reclamar não vale de nada, então estamos fritos!
Temos que botar a boca no trombone, mostrar a nossa insatisfação, gritar até arder os pulmões, espernear se preciso for! - Protestar nas praças ou em frente o congresso - Infelizmente, na democracia vale a anarquia quando as leis nada resolvem.
Beijus

 

At 19 agosto, 2007 21:02, Blogger rafael

Veridiana
Eu é quem agradeço o convite para participar. E estarei sempre a disposição quando o assunto interessar.

E concordo com você que a internet é uma excelente ferramenta para nos expressarmos e criarmos uma rede de conscientização. Contudo, e foi isso que eu quis dizer na metáfora da nau, é preciso, além de falar, agir politicamente, isto é, assumir o leme e dar um rumo para a nau.
bjus
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Luma
Eu não disse que reclamar não vale de nada. Eu disse que "apenas" reclamar não vale de nada. "Apenas" reclamar de fome irá nos saciar?

Como eu já disse para o Fábio, Mario, Ronald e para Luma, mais do que colocar a boca no trombone é preciso colocar a mão na massa.

Política se faz falando, organizando e agindo. E foi por isso que eu disse para o Ronald logo acima: "Espero que o pessoal, agora que disse tudo, não pare por aí".
bjus

 

At 20 agosto, 2007 02:30, Anonymous Anônimo

Rafael: Eu sou egoista, pessimista, apocaliptico e fatalista.

Ou seja

1o - Eu, depois de Eu, o próximo;
2o - Isso não vai dar certo, tenho que mudar para acertar;
3o - Isso vai acabar de forma uma esperada;
4o - Isso vai acabar ainda que eu não queira, e ainda, que eu tenha tentado consertar.

 

At 20 agosto, 2007 13:19, Anonymous Anônimo

ADÃO: Verdade. Somos opostas. Mas meus melhores amigos também são Direitistas e la nave vá...rs*

Algumas visões a faculdade incute na cabeça da gente e só muitos anos depois é que conseguimos nos livrar delas. Talvez minha posição política esteja mudando. Mas isso é só uma desconfiança...

RAFA: Não achei sei texto espiritualizado. Mas acho q pelo fato de eu não ser nada espiritualizada e levar política a ferro e fogo, talvez não fosse boa idéia ficarmos aqui ad infinitum discutindo isso. Além de chata eu sou brava e tinhosa! Hahahaha

 


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