Sim, somos um jovem país. Nascemos oficialmente em 22 de Abril de 1500, e saimos da casa paterna em 21 de Novembro de 1889. É sabido de todos que nascemos com o propósito de sermos uma colônia de exploração e enriquecimento das metrópoles imperiais. Digo no plural porque não enriquecemos apenas Portugal, mas também a Holanda, a França, a Inglaterra e a Igreja Católica Romana.
Hoje mudamos o uniforme para a República, deixando de ser colônia para sermos uma República de exploração: além de sustentarmos os países com quem temos dívidas herdadas de nossos pais e de governos incentivadores do progresso por meio dos investimentos em infra-estrutura, também o fazemos com o capital estrangeiro, o capital interno e os interesses privados.
E falando em interesses privados, temos que parar com essa bobagem de acreditar que somos uma República e ser honestos conosco, reconhecendo que vivemos numa oligarquia: governo de um grupo economicamente poderoso que procura favorecer quem se encontra no poder em detrimento dos demais.
(eis aí nossa mentalidade de colônia)
A propósito, a nossa bandeira nacional é inspirada na bandeira do império colonial, tendo sido feita apenas a substituição do desenho da coroa imperial para a esfera azul celeste com a divisa positivista "ordem e progresso". E recordando, essa expressão é parte da fórmula máxima do positivismo: "O amor por princípio, ordem por base, o progresso por fim".
A filosofia por trás desse fórmula é interessante. Segundo Comte, a moral é a última ciência e rege todas as demais. A "essência" da moral seria o amor, isto é, a caridade, o altruísmo. A ordem seria todas as coisas em seu devido lugar conforme a orientação da moral. O progresso seria consequência dos elementos anteriores. Os positivistas entendem que existe uma lei regendo o progresso das sociedades, sendo o progresso entendido como a ascensão do homem do seu estado de selvageria para o estado de homem livre. E "homem" para os positivistas, refere-se tanto ao indivíduo quanto a sociedade como um todo.
Esta concepção já está superada. Mas ainda, nós, brasileiros, nunca a aprendemos. Pois, como brasileiros, nunca nos interessamos pelo Brasil, e deixamos esse jovem lançado a mercê daqueles que se apropriaram dele para alcançar seus interesses nada caridosos.
Confesso meu pessimismo. Acredito que grande parte desses movimentos contra o governo não são nada altruístas, assim como toda a história do nosso jovem país nunca foi marcada pelo princípio da ordem e do progresso (na verdade, o princípio virou slogam). Para mim, a maior parte dos movimentos choram por seus interesses particulares, e não duvido nada que eles se transformarão em partidos políticos dentro de alguns anos.
E no fim, continuamos sendo uma oligarquia travestida de república e que adora discursar sobre democracia.
Ordem e progresso? Somente se tivermos o amor por princípio.
Leia também o texto da Thiane "falta orgulho de ser Brasil"
Marcadores: blogagem coletiva, reflexões