Atesto isso a cada manifestação sobre os textos. Recebo os mais diversos elogios, críticas e interpretações. São essas últimas a real prova da magia contida nas palavras, pois, depois de fixadas, elas encantam das mais diversas maneiras as pessoas que as lêem. E de modo algum sinto-me frustado pelas leituras não estarem em conformidade com a idéia presente na minha mente no momento da produção do texto. Pelo contrário. Sinto-me atingindo por uma felicidade singular, parecida com aquela que nos sobreveem quando somos surpreendidos pelo olhar ou sorriso da pessoa que amamos.
E por cada texto carregar um pouco da minha pessoa, mas ao mesmo tempo ser totalmente independente de mim, e simultaneamente gerar sentimentos, resgatar lembranças, tocar em pontos diferentes de cada leitor, creio que não somos nós quem interpretamos o texto, e sim, é o texto quem nos interpenetra. Ele carrega um pouco de mim até você, e quando você me diz algo sobre ele, está colocando um pouco de você em mim, e nele também. Assim, por causa da vida própria do texto, ele é capaz de juntar a minha vida à sua, numa cadeia infinita de interpenetrações, colocando eu em você, você em mim, e nós dois nele.
Lembro de uma palestra do Rubem Alves na qual ele disse: "Os hermeneutas ficam se perguntando sobre o que o texto quis dizer e por isso criam as mais absurdas interpretações, quando a resposta é simples: o texto quer dizer aquilo que está escrito." É uma pena que a maior parte das pessoas ficam na interpretação, quando de fato, o significado do texto e seu maior valor está contido no seu poder de interpenetração, pois é isso que nos faz transcender a cada linha, levando-nos a encontrar um reflexo de nós na palavra de outros.
Marcadores: meme, prêmio, reflexões, relacionamento