"A que escola se filiou? - A nehuma. Se o homem vale por seus sentimentos, com dobradas razões o poeta, dada sua maior riqueza de sensações. Isso de escolas é esquadria para mediocres. Só existe uma regra de escrita - a do escritor apoderar-se de sua língua e manejá-la de acordo com o seu individualismo sentir. Se fôr um iluminado, fatalmente será grande; se lhe faltar a centelha divina, explorará quantos processos ou confrarias apareçam e nunca passará de número anódino, nomeio da turbamulta de escrevinhadores."
"Há modos de versejar, nunca modos de poetar. O verso é o elemento material de que o espiritual é a poesia, podendo haver, como há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício. A arte está contida no elemento subjetivo, na alma da forma, que é a poesia. Não quero assim afirmar possa haver um verdadeiro poeta sem o verso. O verso está para a poesia em maior exigência que a pauta para a música."
"Todo homem vibra por suas paixões. Se assim o homem em geral, pior o poeta em particular, criatura cujas forças intelectuais se denunciam pelo alto grau de construção espontânea da alma, com que o dotou a natureza. A paixão é um acréscimo da alma, um aumento de força da sensibilidade. Quando Montesquieu afirma que ela faz sentir e nunca ver, ou toma a paixão pela explosão das paixões, ou esquece que é debaixo do seu império que se criam as formas da arte e se apreendem os segredos da vida. E tal só se consegue, sentido-se, vendo-se e compreendendo-se."
"Para ser sua paixões acima de mais nada, o poeta tem de sentir a vida, o amor, os desejos, a força, a vastidão, a piedade, a cólera, o que sorri à flor das águas e o que brame no fundo dos oceanos, tudo o que é bom ou tudo que é mau, o que rasteja ou o que se alcandora, a beleza atraente e a repelente fealdade dentro de si mesmo, do seu temperamento transbordante, no mundo de sua visão. Afastando-se do 'eu' para trabalhar conforme medida, pode conseguir talho pimpão, mas sacrificando-se na individualidade e imolando a lira. O que há, sempre houve ou haverá, é um gigante gravando a corrência íntima e sonora da própria personalidade."
"O que existe por todos os séculos além é a poesia, espiritualidade das coisas, e o poeta, intérprete dessa espiritualidade, por via, obra e graça de maior poder sensorial que os demais humanos. E tanto é poeta o que parte do real para se mergulhar no ideal, como o que desce do ideal para sentir o real. Nesta ascensão ou nesta descensão, cada um tem o seu colorido, a sua música, a sua forma, sua personalidade tocada pela luz."
"Quanto ao pensamento preconcebido, como a própria razão de ser o trabalho em elaboração, embora sofra mudanças radicais. O subsconciente, não raro, presta aos escritos maiores serviços que o próprio consciente. Para sua escrita e linguagem, porém, o artista só se utiliza das tintas de sua paixão, ou nunca será poeta."
"Nunca a existência de um poeta será vazia, pois no seu seio está sempre presente uma grandeza, por conquista do saber ou doação de suas próprias faculdades, que lhe enche o espírito do sentimento total das coisas, como se o poeta fôsse a própria idéia eficaz do mundo."
Orris Soares, Elogio a Augusto dos Anjos. In: Augusto dos Anjos, EU, 30 edição.
"Há modos de versejar, nunca modos de poetar. O verso é o elemento material de que o espiritual é a poesia, podendo haver, como há, muito verso sem poesia e muita poesia sem verso. O verso propriamente dito não é arte, é artifício. A arte está contida no elemento subjetivo, na alma da forma, que é a poesia. Não quero assim afirmar possa haver um verdadeiro poeta sem o verso. O verso está para a poesia em maior exigência que a pauta para a música."
"Todo homem vibra por suas paixões. Se assim o homem em geral, pior o poeta em particular, criatura cujas forças intelectuais se denunciam pelo alto grau de construção espontânea da alma, com que o dotou a natureza. A paixão é um acréscimo da alma, um aumento de força da sensibilidade. Quando Montesquieu afirma que ela faz sentir e nunca ver, ou toma a paixão pela explosão das paixões, ou esquece que é debaixo do seu império que se criam as formas da arte e se apreendem os segredos da vida. E tal só se consegue, sentido-se, vendo-se e compreendendo-se."
"Para ser sua paixões acima de mais nada, o poeta tem de sentir a vida, o amor, os desejos, a força, a vastidão, a piedade, a cólera, o que sorri à flor das águas e o que brame no fundo dos oceanos, tudo o que é bom ou tudo que é mau, o que rasteja ou o que se alcandora, a beleza atraente e a repelente fealdade dentro de si mesmo, do seu temperamento transbordante, no mundo de sua visão. Afastando-se do 'eu' para trabalhar conforme medida, pode conseguir talho pimpão, mas sacrificando-se na individualidade e imolando a lira. O que há, sempre houve ou haverá, é um gigante gravando a corrência íntima e sonora da própria personalidade."
"O que existe por todos os séculos além é a poesia, espiritualidade das coisas, e o poeta, intérprete dessa espiritualidade, por via, obra e graça de maior poder sensorial que os demais humanos. E tanto é poeta o que parte do real para se mergulhar no ideal, como o que desce do ideal para sentir o real. Nesta ascensão ou nesta descensão, cada um tem o seu colorido, a sua música, a sua forma, sua personalidade tocada pela luz."
"Quanto ao pensamento preconcebido, como a própria razão de ser o trabalho em elaboração, embora sofra mudanças radicais. O subsconciente, não raro, presta aos escritos maiores serviços que o próprio consciente. Para sua escrita e linguagem, porém, o artista só se utiliza das tintas de sua paixão, ou nunca será poeta."
"Nunca a existência de um poeta será vazia, pois no seu seio está sempre presente uma grandeza, por conquista do saber ou doação de suas próprias faculdades, que lhe enche o espírito do sentimento total das coisas, como se o poeta fôsse a própria idéia eficaz do mundo."
Orris Soares, Elogio a Augusto dos Anjos. In: Augusto dos Anjos, EU, 30 edição.
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