Quando perguntam se sou cristão, fico em dúvida sobre a resposta a ser dada, porque nunca sei exatamente o significado de "ser cristão" na qual está envolta a pergunta.
Se ser cristão é crer em pelo menos um dos infinitos dogmas oficiais e discordantes entre si, professados pelas igrejas ao longos dos séculos, então não sou cristão.
Se ser cristão é acreditar no "cristianismo populacho" vivido pela maioria dos crentes, com seus usos e costumes, crendices, superstições, obediência irrestrita a lideres, visão miope e preconceituosa da realidade, então não sou cristão.
Se ser cristão é estar inserido num gueto fechado de indíviduos, pensando que uma possível divindade se alegra somente com eles e apoia o seu desprezo para com quem discorda deles, então não sou cristão.
Se ser cristão é pensar na recompensa do além, então não sou cristão.
Se ser cristão é considerar qualquer prazer dessa vida pecado, então não sou cristão.
Se ser cristão é trocar a vida aqui por uma no além, então não sou cristão.
Se ser cristão é negar o diferente, o crítico, a dúvida, e afirmar a ignorância ao invés da reflexão, seja pela fuga do conhecimento sobre tudo ou pela preguiça de buscá-lo, então não sou cristão.
Se ser cristão é amar a deus antes das pessoas, então não sou cristão.
Se ser cristão é precisar ter deus como justificativa para tudo, então não sou cristão.
Ser ser cristão é ser santo a partir da negação do mundo, então não sou cristão.
Se ser cristão é aceitar ao menos um desses elementos já rejeitados por mim, então você está certo: não sou um deles. Sou um desviado e condenado a pagar o preço por essa decisão, principalmente o estipulado pelos que se auto-denominam assim.
Se existe alguma forma de ser cristão, que não se baseie nessas as quais eu já rejeitei por não me conduzir a paz comigo mesmo, estou curioso em saber. Se não houver, não ser identificado como cristão, atualmente me traz uma grande satisfação.
"a verdade é um molho de chaves"