Tem vezes que me dá um branco, e fico completamente sem idéias. Antes essa situação me deixava deprimido, pois eu sentia-me obrigado a escrever. Contudo, depois de começar a refletir sobre o porque eu ainda escrevo, ficar sem idéias não é mais um fardo, mas sim, um momento no qual estou no aguardo de algo novo para admirar.
Para Karl Jaspers, o filósofo assume três atitudes básicas quando se dedica a tarefa do filosofar: 1) a admiração: quando ele toma consciência de sua própria ignorância; 2) a dúvida: a exigência da busca de outros conhecimentos além dos seus; 3) a insatisfação moral: decorrente da consciência sobre a nossa fraqueza e finitude.
Todas essas atitudes surgem do nosso confronto com as questões colocadas pela realidade, levando-nos a buscar a compreensão e a sabedoria frente a essas questões. O espírito filosófico, enquanto amante da sabedoria, tem em si dois momentos que, a princípio, parecem excludentes: a melancolia, que se caracteriza pela solidão e introspecção; a admiração, que é determinada pela abertura e recepção ao real. E eu acho que o nosso grande problema é perceber o real.
O primeiro contato com a realidade nos coloca as questões a serem resolvidas pelo resto de nossas vidas, e pode ser chamada de admiração ingênua. Mas a realidade percebida nem sempre é boa, e a admiração também pode se transformar numa atitude antiadmirativa, o pessimismo. O pessimista é aquele que não sente admiração porque não quer, ou porque não pode.
O pessimismo pode se desdobrar no pessimismo da inteligência na qual interpretamos a realidade de forma ingênua, buscando neutraliza-la, não encontrando sentido algum no real, e deixando-se levar pela ausência de reflexão; e ainda no pessimismo da sensibilidade que experimenta a realidade como um mal, manifestando um comportamento apático e conformista.
Enquanto o pessimismo se caracteriza principalmente por um comportamento egocêntrico, a admiração ingênua apresenta-se como afirmação, um lançar-se para pensar sobre a vida. É a abertura para a realidade anulando a distância entre querer e conhecer, reconhecendo o diferente como diferente. É na admiração também que tomamos consciência de que somos separados daquilo nos cerca, orientados para as coisas que está fora de nós, ao mesmo tempo em que somos tragados para dentro de nós, experimentando o mundo como o diferente de si e em si mesmo.
Mas não se devemos confundir a admiração com o pasmo ou com a surpresa. O primeiro é identificado como uma confusão diante do real, na qual perdemos a si próprio. Confundimo-nos com o real e não distanciamo-nos dele. O segundo, a surpresa, suprimi toda indistinção e indecisão característica do pasmo, mas não traz consigo o elemento da reflexão.
Enfim, ter idéias para escrever, ou para qualquer outra coisa, exige o esforço de refletir sobre o mundo a nossa volta. Contudo, reflexão não é sinônimo de títulos acadêmicos, vasto número de leituras e um grande conhecimento. Reflexão é sim sinônimo de estar admirado pela vida a nossa volta e deixar-se embriagar pelos seus mistérios e beleza.
Se fosse para usar uma metáfora, eu diria que admiração é aquela paixão de adolescência que consome toda nossa imaginação, sentimentos e até mesmo a razão, deixando-nos cativos a pessoa amada e levando-nos a ter várias idéias a respeito dela....
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