Ginecófobo: aquele que tem aversão as mulheres.
Abri uma nova conta no orkut por ter medo de ser esquecido. Sim, porque hoje parece que ninguém mais usa e-mail, telefone, carta, ou qualquer outro meio de comunicação fora do modelo "scrap". E uma coisa chamou a minha atenção nessa volta ao universo orkut: minha página de recados contém apenas mulheres. Bom para uns, mas para mim um motivo de reflexão.
Notei isso nos últimos anos. Tenho mais amizades femininas do que masculinas. Minhas melhores amizades são cultivadas com mulheres e sinto-me muito mais a vontade entre elas. Se no tocante a amizade tenho "sucesso", por outro lado, no que se refere a relacionamentos cultivados com afetos para além dos trocados por amigos, não sou um cara com muita ginga.
Penso que isso ocorra devido meu perfil. Não vou me descrever aqui - porque a propaganda deve ser feita por quem me conhece e também por não estar fazendo anúncio de minha disponibilidade..... Apenas quero expressar minha percepção sobre o meu "encalhamento".
Sem nenhuma modéstia (aliás essa é uma qualidade que me falta) faço algum tipo de sucesso entre as meninas mais novas. Porque sempre poso como um homem maduro, experiente com as questões da vida, e isso de certo modo agrada a inexperiente juventude.
Também noto algum tipo de encantamento entre as mulheres com alguns aniversários a mais em relação a mim, e isso por eu demonstrar ser um jovem responsável e com um certo ar de romântico, trazendo sempre a tona a imagem incrustada no imaginário feminino do príncipe (mas eu não me considero príncipe, ok?).
Você deve estar pensando na minha satisfação ao constatar isso (pode não ser verdade, mas eu vejo assim, hehe). E não nego ser muito prazeroso e altamente saudável para a minha estima perceber as coisas desse modo. Contudo, minha satisfação se esvai quando noto que, entre às mulheres da minha idade, minha atuação chega a ser quase nula.
E credito isso novamente ao meu perfil. Parece que sou meio antiquado para as expectativas gestadas entre o belo sexo de idade próxima a minha. A pose de rapaz correto, certinho, crente no amor verdadeiro e adorador da poesia, consegue apenas conquistar palavras como: "você é especial" e "você vai encontrar alguém especial e será muito feliz". De tanto ouvir isso, cheguei a seguinte conclusão: ou ser especial levanta uma barreira entre as pessoas e você, ou ninguém se considera especial a ponto de sentir-se merecedora de você(e se alguém se considera, me escreva!).
Essa tese de que meu perfil não ajuda muito na conquista das mulheres da minha idade, foi fortalecida depois de ler um trecho de "O livro do riso e do esquecimento" de Milan Kundera, no qual o autor escreve:
Os homens sempre se dividiram em duas categorias: os adoradores de mulheres, isto é, os poetas, e os misógenos, ou melhor dizendo, os ginecófobos. Os adoradores ou poetas veneram os valores femininos tradicionais como o sentimento, o lar, a maternidade, a fecundidade, os raios divinos da histeria e a voz divina da natureza em nós, enquanto que nos misógenos ou ginecófobos esses valores inspiram um ligeiro pavor. Na mulher, o adorador venera a feminilidade, enquanto o misógeno dá sempre preferência à mulher do que à feminilidade (...) O adorador ou poeta pode dar à mulher o drama, a paixão, as lágrimas, as preocupações, mas nunca nenhum prazer.
Coloco-me na condição do adorador. Confesso ser um sonhador, um amante da beleza, um contemplador do feminino, e talvez um poeta do amor. Reconheço uma certa ausência de um atrativo de cunho mais carnal, mais reclinado ao âmbito do prazer. E numa sociedade fortemente orientada pelo hedonismo (ter o prazer com objetivo) eu certamente saio perdendo.
Por vezes sinto-me como alguém pertencente a uma outra dimensão, aquela que compreende o ideal. De modo algum me considero perfeito, contudo, no imaginario ensinado a nós, as mulheres sempre sonham com o adorador, mas quando encontram um, parecem desejar mesmo o misógeno, relegando o primeiro a classe dos "especiais", que eu não considero a das mais felizes.
Sou um mísero adorador das mulheres tentando ser poeta. E apenas por tentar já me sinto inacessível, não porque eu queira, mas por imposição do hedonismo favorecedor da misogenia.
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