2.5.07
na idade da flor
Atentei para minha idade por esses dias, quando me surpreendi esquecido de quantos anos tinha. Engraçado? Muito. Recorri ao auxílio dos dedos para saber o tempo transcorrido desde o primeiro suspiro.

Diriam que estou na flor da idade. E até aceitaria isso se essa não fosse uma expressão ingrata. Claro. Pense no tempo da vida de uma flor! Certo. Por vida de uma flor penso apenas no momento do seu desabrochar. E sou o único? Acredito que não. E isso é uma pena, pois, a vida da flor compreende desde o momento em que ela deixou de ser semente, até o instante no qual a última pétala solta-se do caule.

Porém, para a maioria de nós, a idade da flor se manifesta apenas quando essa desabrocha e permanece bela.

Pensando nisso, outra expressão ingrata "desabrocha" no meu jardim de pensamentos. "Quantas primaveras você tem?" Algo interessante aqui: a idéia da primavera remete imagem de campos ou jardins floridos. Floridos entenda-se aqui como flores desabrochadas.

A vida da flor: quando ela está desabrochada;
Campo com muita flor desabrochada: muita vida presente.

Outra muda de pensamento apareceu: se primavera traz a idéia de vida, o Outono tem a idéia de proximidade da morte, os últimos dias da vida. Esse é o sentido do título do livro de Gabriel García Márquez "O Outono do Patricarca". É a narração dos últimos dias de vida de um gêneral que de tão velho é quase eterno...

O Outono é a estação que precede ao Inverno: estação de raras flores. Por isso a idéia do Outono como imagem para o fim da vida: nele as flores perdem suas últimas pétalas, e quando adentram no inverno, já não tem mais vida.

A vida da flor: quando ela está desabrochada;
Campo com muita flor desabrochada: muita vida presente;
As flores perdendo as pétalas: a vida se esvaindo;
Campos sem flores: ausência de vida.

Se pudesse mudar o sentido das expressões não diria para alguém de ares jovial que ela está na flor da idade. Isso é ingrato para aqueles que já não expressam jovialidade. Ao contrário, diria para todas as pessoas que elas estão na "idade da flor". Porque a "idade da flor" conta-se desde o momento em que ela deixa de ser semente. E para quem acompanha o seu desenvlover, nota a beleza da flor já nesse momento. E percebe que o desabrochar é apenas uma parte da vida dela. Pode ser que seja o mais belo. Mas como eu acho que a beleza sempre se refere a uma totalidade, não acredito que seja o mais belo, e sim, mais uma parte da beleza total da flor.

E quem acompanha no Outono as pétalas caírem, encontra a mesma beleza vista na hora da primeira desabrochar. Eu me emociono muito mais nesse momento: pois é aí que a beleza completa o seu ciclo e alcança a sua plenitude.

Não acho necessário saber a idade que se tem. Muito menos se é a flor da idade. Importante sim é sentir-se uma flor; e saber que conforme a idade da flor passa, mais próximo da plenitude da beleza estamos...

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posted by rafael at 18:04 | Permalink |


1 Comments:


At 03 maio, 2007 11:43, Anonymous Anônimo

Puxa, Rafael, me senti honrada com o seu gesto. E muito agradecida.

Achei o seu texto muito singelo. Simples e profundo.

Eu não tenho problema nenhum com a minha idade. Mas, devo confessar, que detesto esse tipo de expressão.

Um ponto é que no modelo de sociedade em que vivemos, em que a beleza é considerada fundamental e que não há a menor consideração pelos "mais velhos" dá pra entender perfeitamente o motivo pelo qual se considera a juventude a melhor idade. A flor da idade.

Mas, como bem disse, a flor é passageira e somente quando conseguirmos entender a profundidade e darmos valor a totalidade da beleza da planta, compreendida nos diversos estágios é que entenderemos o real sentido de "beleza".

Você já compreende. É por isso que você é admirável. (também por isso, rsrsr)

Um grande abraço.

Silvia

 


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