1.2.08
clube do coma: "do confinamento das gentes"
Vigésimo quarto inverno de uma primaveril vida e primeira vez que se esqueceu na janela. A visitara muitas vezes para convidar a luz e o frescor do ar para adentrar naquilo erroneamente chamado de lar. Digo erroneamente porque descobrira aquilo ser o local do confinamento das gentes. Mas pela primeira vez quedara-se na janela, vendo que o lar das gentes está num de seus maiores temores: no infinito do horizonte.

Dera conta do inverno quando a primeira lufa gélida do vento rasgou sua pele. Dera conta do seu inverno quando o ar dos pulmões exalado pela boca rachada não branqueou como ocorre no encontro do quente com o frio. Percebeu a primavera artificial na qual vivera durante os vinte e quatro invernos desconhecidos, inverno confinado dentro de si, assim como até então havia permanecido no local do confinamento das gentes, longe do horizonte infinito. Descobriu o infinito horizonte de si, e temeu - reconheceu seu verdadeiro lar.

Da lufa cortante e do horizonte temeroso desviara o olhar, já perdido na infinitude de si e do mundo. Saíra do confinamento das gentes no qual encontrara-se sempre achado. Foi quando achado que descobrira-se no confinamento. No olhar perdido no infinito do horizonte de si e do mundo, revelou-se o verdadeiro local de sua morada: na falta. Entendeu porque se sentira confinado quando feliz – a felicidade é estar na presença do desejado, é o fim do desejo. Sua infinitude estava na dor, na ausência do desejado, na eterna permanência do desejo.

No vigésimo quarto inverno de uma vida nunca primaveril, encontrou seu lar na inexistência dele, na ausência de um lugar para posar seus olhos, na presença do cortante vento gélido do qual se deseja sempre sair, na dor da infelicidade para nunca se encontrar confinado. Para além da janela encontrou seu lar, no horizonte infinito, na presença da ausência. Seu lar estava na falta – na sofrega presença do desejo.

Descobrira-se no vigésimo quarto inverno, na contemplação pela janela do temeroso horizonte e na permanência da falta.

(Falta: a tua ausência presente)
 
posted by rafael at 01:55 | Permalink |


6 Comments:


At 02 fevereiro, 2008 02:31, Blogger Sandra Leite

Essa profusão de sentimentos só poderia trazer a vivacidade de um texto como esse.
Denso, difícil, presente!
"Sua infinitude estava na dor, na ausência do desejado, na eterna permanência do desejo"
E Bilac definiu bem (também): saudade é a presença dos ausentes.
Sempre presente!
Sempre um presente!

 

At 02 fevereiro, 2008 23:53, Blogger Flavia

A frase que a San citou também foi a que mais me chamou a atenção.
Acho que eu também me sentindo muito a vontade no confinamento das gentes, quando o certo seria abrir janela e ver que lá fora há muito mais coisas a se descobrir.
Quem sabe não devamos sair as vezes nem que seja só pra perceber que alguma coisa nos falta...

Bjs!

PS: Esse texto deve ter pensado e sentido num dia chuvoso de janeiro, não foi?

 

At 04 fevereiro, 2008 20:58, Anonymous Anônimo

É o momento deste jovem crescer! Agora é a hora, para a qual, você passou o tempo anterior se preparando, e você, só saberá se teve sucesso, no final.

 

At 04 fevereiro, 2008 21:00, Anonymous Anônimo

Ah! o pessoal nos comentários indicaram uma parte do texto como preferido, eu também farei, para mim, o centro do texto é a descoberta:

"Foi quando achado que descobrira-se no confinamento. No olhar perdido no infinito do horizonte de si e do mundo, revelou-se o verdadeiro local de sua morada: na falta."

 

At 07 fevereiro, 2008 14:25, Anonymous Anônimo

E esse é o meu trecho preferido:
"Para além da janela encontrou seu lar, no horizonte infinito, na presença da ausência. Seu lar estava na falta – na sofrega presença do desejo."
Te ler me faz pensar na presença da ausência.

 

At 10 fevereiro, 2008 11:56, Blogger Luma Rosa

É na ausência que nos encontramos! Beijus

 


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