É por isso que Jesus cita o amor ao próximo como o segundo grande mandamento. Se no primeiro grande mandamento Jesus resume os três primeiros preceitos do decálogo, nesse segundo Jesus inclui o restante. Na passagem de Mc. 12.28.34, Jesus fala pela segunda vez sobre o grande mandamento. A primeira no livro do evangelista, ocorre no cap. 10.17-19. E vale destacar a diferença.
Em Mc. 10.27-29 Jesus cita somente os mandamentos éticos contidos no decálogo. A condição é, pois, não causar prejuízo a ninguém, manifestação mínima do amor; ela corresponde à regra de conduta proposta pelos doutores judeus como compêndio da lei, que interpretava o mandamento do amor ao próximo de modo puramente negativo: “não faças ao outro o que não quererais que façam a ti”. Aqui, a ênfase está no respeito ao próximo, que mostra já certa responsabilidade pelo bem-estar; a pessoa não deve contribuir para o aumento da injustiça no mundo.
Por sua vez, em Mc. 12.38-34 Jesus acrescenta o mandamento resumo de Lv. 19.18: “Ama a teu próximo como a ti mesmo”. A lei não é mais formulada aqui de forma negativa, como faziam os doutores, mas de forma positiva. Essa forma positiva deve ser interpretada em sentido ativo, na atividade em favor do próximo; atividade que não põe em perigo o próprio bem-estar.
Frei Betto, sacerdote católico ao comentar sobre a proibição feita por Deus sobre a confecção de imagens para a adoração diz:
"Os profetas, ao condenarem essa tentação do povo (de construir imagens), queriam dizer algo muito simples: 'Se querem louvar e servir a Javé, façam-no na única imagem Dele que Ele nos concedeu, que é o próximo. É muito cômodo adora-lo na montanha, no bezerro ou no carvalho, difícil é serví-lo a adorá-lo no próximo, a imagem e semelhança de Javé'. Louvar a Javé é louvar a criatura, criação do Senhor. Reconhecer essa criação é, como dizia Jesus, fazer a vontade do Pai, que é a prática da justiça, e não a louvação como abstração, coisa em si, que prescinda a mediatização do próximo."
A insegurança da salvação, conseqüência da idéia de Deus ambíguo, atormenta o ser humano e paralisa sua ação. Se ele não está seguro do amor de Deus, tem, por conseguinte, insegurança de sua salvação futura e concentra seu esforço e sua energia na solução deste problema crucial. Vive angustiado, dependente de si mesmo e preocupado com seu destino. Não tem tempo para dedicar-se aos outros.
Quando Jesus assegura ao ser humano que Deus não é problema e que pode contar sempre com seu amor, descentraliza a pessoa de si mesma e a liberta para que possa dedicar suas energias a amar aos outros.
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