Ser personagem viva na lembrança de alguém não significa necessariamente ser benquisto pela pessoa. O bem da verdade é que as dores geralmente ocupam os primeiros lugares em nossas lembranças, permanecem por mais tempo vivas e são recorrentes com mais frequência. Talvez se deva ao fato de precisarmos sempre de uma motivação para estar feliz, enquanto que para se estar triste, basta estar só. Não que a solitude implique na tristeza; ao contrário, é imprescindível o estar só para medirmos o quanto somos nós e o quanto somos outros. E a tristeza espreita justamente na hora dessa medição, na hora do encontro comigo mesmo. Para se estar triste basta estar só porque é nesse momento que ocorre o nosso encontro com nossas mazelas, medos, inseguranças, decepções, sendo essas e algumas outras o alimento da dor. Daí as dores ocuparem os primeiros lugares em nossas lembranças, pois quando não somos distraídos pelo mundo fora de nós, somos levados involuntariamente para os aposentos nos quais são guardadas as incomodas velharias. Em muitos casos as personagens vivas na lembrança de alguém são justamente aquelas que geraram alguma dor. Cada um sabe o que já sofreu com outra pessoa, e por isso poupo-me de exemplificar. E quem gera dor, seja no entendimento, no coração, no afeto, na alma ou no corpo, normalmente não é benquisto. Mas ainda assim é lembrança viva, e mais viva do que as benquistas.
Ser esquecido também não implica em não ser mais benquisto e ter sido deixado de ser amado. Como já disse noutro momento: "Não podemos nos culpar por algumas amizades não mais cultivadas e pensarmos que isso seja consequência da nossa falta de afeto simplesmente. A vida é feita de histórias individuais onde cada qual escreve um diferente roteiro. Em algum momento mudamos e também nossos amigos e amigas. Por vezes, essas mudanças aproximam ainda mais. Porém, bem sabemos que elas mais distanciam, pois não mudamos da mesma forma e para a mesma direção. Tenho muitas amizades que hoje encontram-se apenas nas lembranças, mas nem por isso deixam de ser amizades e pertecentes a um passado irrecuperável. A verdade é outra: essas amizades ainda são presentes justamente por nos acompanharem ainda hoje em forma de lembranças e por ser responsáveis por quem somos nesse exato segundo e em todos àqueles porvir (...) É marcar elas de modo que sintam a necessidade de ser afetiva com as demais pessoas."
Ser amado e benquisto não se reconhece no fato de estarmos vivos na lembrança de alguém. Há apenas um modo nos reconhecermos amados e benquistos: nas provas de amor. "E o amor está na doação. Amar não é apenas um sentimento interno. Mas também, e principalmente, uma ação externa. Amor somente é amor quando se exterioriza. Daí ser fenômeno - palavra que vem do grego phainomenon que significa "aparência". Por isso não pode ser apenas um sentimento interno. Porque lá dentro somente nós vemos. E amor não é para nós, mas para os outros."
Eu tenho sido um dos poucos sobreviventes desse mundo egoísta a ser alvo da lembrança benquista e do amor provado. A meses ando recolhido em algum canto de meu espírito e por isso displicente na prova de meu amor e de minhas lembranças benquista de você, insistente em me visitar. A prova veio com a Van no selo "blog cabeça" e a Ká com o "esse blog vale a pena conferir".


Infelizmente você não pode ver meu sorriso e meus olhos testemunhando meu apreço por ter teus olhos pousado sobre minhas parcas palavras. Mas enquanto não tenho provas, rogo por tua confiança nas minhas benquistas, ternas e amadas lembranças de tua singela passagem por sobre o rafael escrito nesses tortuosos vocábulos.
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